O desafio de se superar não se restringe aos atletas que correm atrás de medalhas na Austrália. No Brasil, quem fica diante da telinha também se sente obrigado a vencer obstáculos e suportar uma estafante maratona que começa à noitinha e se estende até as primeiras horas da manhã. A diferença de 14 horas de fuso tem posto à prova um número considerável de pessoas, que recorrem ao cafezinho para manter os olhos abertos durante as transmissões. A média de audiência da Rede Globo na Grande São Paulo, por exemplo, é de 7 pontos, o que equivale a 560 mil valentes telespectadores. Já a Bandeirantes amealhou 320 mil novos torcedores na madrugada.

O estudante Marcelo Rodrigues, 17 anos, é um desses torcedores abnegados. Normalmente, o rapaz acorda às 6h para entrar na escola às 7h. Agora, dorme mais tarde e pula mais cedo da cama. “Na primeira semana, ainda não estava na fase de provas. Mas agora tenho de estudar e ficou mais difícil acompanhar os jogos”, diz. Para conferir o desempenho do Brasil, Marcelo conta com a ajuda do pai, que acorda sozinho para ver a programação. Ele se queixa do esforço solitário. É que os colegas de classe não têm a mesma disposição.

Glaydon programa-se para dormir de dia

Preparo também é importante. Desde o dia 14, o operador de eventos Glaydon Gonçalves, 27 anos, procura nos jornais quais serão as atrações da madrugada. Dorme no intervalo do almoço e às 19h dá mais um cochilo antes de dar largada à jornada televisiva. Ele fica zapeando pelos canais conforme a programação preferida. “Vi todas as disputas de medalhas em que havia um brasileiro”, exulta. O despertador está funcionando direito, mas o organismo de Gonçalves, não. Anda com olheiras profundas e cansado. “Estou no limite. Aguento o pique porque Olimpíadas só acontecem de quatro em quatro anos. Mas até agora estou decepcionado. Esperava mais medalhas”, lamenta-se.

Os fãs de futebol masculino estão menos cansados. Os jogos da primeira fase passaram às 6h. A Globo diz ter registrado, na Grande São Paulo, média de 19 pontos para o embate entre Brasil e Japão, na quarta-feira 20. Cada ponto na capital paulista equivale a 80 mil telespectadores. Entre esses torcedores está o comerciante Márcio Gonçalves, 27 anos, que assiste às partidas com um cigarro na mão. “Espanta o sono”, comenta. A internet também é termômetro de audiência. “Todo dia recebemos três mil e-mails, o dobro do normal. Muitos pedem repetições”, revela Ana Bueno, gerente de marketing do SporTV. As reprises são a salvação para quem não consegue abrir os olhos enquanto rolam as competições. Mas os que mantêm o ritmo na maratona televisiva dizem que a emoção da prova ao vivo é incomparável. “Vale a pena fazer qualquer coisa para vibrar com cenas como a cesta da Janeth”, justifica Glaydon Gonçalves, referindo-se ao arremesso certeiro feito pela atleta no último segundo da partida contra as eslovacas. O esforço serve também como ensaio para mais uma maratona: a da Copa do Mundo de 2002, na Coréia do Sul e no Japão. Até lá, dá tempo de preparar o físico.


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