Às suas marcas”, disse o juiz de partida. Um nadador baixo (1,70m) aguarda cauteloso o sinal de partida. Na largada anterior, seus companheiros de eliminatória dos 100m livre, Karim Bare, da Nigéria, e Farkhod Oripov, do Tadjiquistão, tinham se precipitado, caído na água antes do apito e desclassificados. Soa o sinal. O nadador demora 1s06, uma eternidade, para mergulhar. Eram 10h08 de terça-feira 19 e estava começando a saga de Eric Moussambini, 22 anos, um dos três atletas da Guiné Equatorial, pequeno país africano. O mergulho é desajeitado, mas as braçadas, em estilo tosco, são vigorosas, para delírio de mais de dez mil pessoas. Eric mantém um ritmo forte, entusiasmado com sua estréia. A piscina vai chegando ao fim e o fôlego também. As braçadas ficam desencontradas. Dá a impressão de que se vai afogar.

O público, percebendo que estava diante de um desses momentos sublimes do espírito olímpico, se levanta, aplaude e grita, estimulando Eric como se ele fosse bater um recorde mundial. E ele encontra forças insuspeitadas para seguir em frente. Os metros finais são dramáticos. O rapaz, que aprendeu a nadar em janeiro numa piscina de 20 metros de um hotel, considerada a melhor do seu país, debate-se, esperneia e finalmente toca na borda, completando a prova em 1m52s72, o maior de todos os tempos em 104 anos de Olimpíadas.

O estádio vem abaixo. Eric, exausto, é ajudado a sair da água. Olha para os lados, espanta-se com os aplausos, sorri e percebe que sua vida mudou. Acena e tenta ir para os vestiários. É cercado por um batalhão de jornalistas. Eric, ou a Enguia, apelido dado pela mídia, conta que teve medo de se afogar. “Estava mal. De repente, uma força foi me levando. Acho que foram os aplausos”, diz.

Finalmente chega aos vestiários e quase desmaia quando um gigante careca o cumprimenta. É o australiano Michael Klim, seu ídolo. “Meu herói, vindo me cumprimentar e eu sem a minha câmera”, vibra. No dia seguinte, a festa continua. O australiano Ian Thorpe, o Thorpedo, joga confetes. “Esse é o verdadeiro espírito olímpico.” Eric vai para a praia. O garoto Fraser Perry olha a agitação e pergunta. “É o cara que chegou em último? Agora, ele e Thorpedo são meus heróis.” Thorpedo, um herói da precisão. Eric, um herói acidental.