O balanço da natação nas Olimpíadas de Atlanta fechou com quatro recordes mundiais e cinco olímpicos. Nos primeiros cinco dias de competição nas piscinas de Sydney, os atletas derrubaram recordes mundiais 12 vezes e detonaram a marca olímpica em 20 ocasiões. Fizeram por dia quase o mesmo trabalho realizado em toda a jornada de 1996. O massacre – estabelecido num país que torce por seus nadadores com o mesmo fervor dedicado no Brasil aos craques de futebol – e a queda de tantos índices devem-se a roupas de última geração, programas estratégicos de formação de atletas e a uma tecnologia que nunca se viu nos parques aquáticos. “Esperávamos essa performance, pois trabalhamos há mais de duas décadas nestes três pilares”, afirmou a ISTOÉ Ian Hanson, um dos diretores do departamento de natação da Austrália.

O vértice mais visível deste triângulo são os maiôs de última geração que fazem os atletas parecerem extraterrestres. A Speedo, fornecedora dos australianos e holandeses, investiu US$ 8 milhões na fast skin (pele rápida), maiôs feitos de náilon e lycra, com menos de um milímetro de espessura, que cobrem os atletas da canela ao pescoço. As curvas do corpo foram mapeadas em computador para adaptar formas e costuras à anatomia humana e “colar” as peças na pele sem limitar movimentos. A camada externa tem frisos para diminuir o atrito.

…e as sapatilhas especiais da americana Marion Jones dão velocidade.

As pesquisas inspiraram-se na hidrodinâmica da pele do tubarão, uma das mais perfeitas da natureza. Por isso, o apelido da roupa é tubarão. A Speedo equipou com o tubarão o holandês Pieter van den Hoogenband, dono de duas medalhas de ouro e recordes mundiais nos 100 e 200 metros livre. Hoogenband prefere nadar apenas com a parte de baixo da peça. A fantástica Inge de Bruijn, da Holanda, recordista nos 100 metros livres e 100 metros borboleta, foi outra que vestiu tubarão. A Adidas também lançou sua fast skin. Ela é usada pelo australiano Ian Thorpe, o Torpedo, dono de três medalhas de ouro e três recordes mundiais em Sydney. Chegou-se a dizer que o tubarão melhoraria em 3% o rendimento do atleta, isto é, quase um segundo e meio numa prova de 100 metros livres. É exagero. Mas o equipamento tem potencial para decidir paradas importantes. “Num recorde como o dos 100 metros livres, de 47s30, estabelecido em Sydney, o tubarão pode ajudar a ganhar dois, três centésimos de segundo. Pode ser a diferença fatal”, diz Reinaldo Dias, um dos técnicos da equipe brasileira.

O que mais produziu resultados foram, no entanto, os programas de formação de equipe. Eles envolvem centros de treinamento modernos, uma política agressiva de captação de novos talentos e o acompanhamento científico. A Austrália, por exemplo, oferece fisiologistas, médicos e psicólogos para seus 80 atletas. São 80 profissionais, entre eles 12 massagistas. Dentro ou fora de competições, o limite de atividades é definido com precisão para evitar stress ou fadiga.

Antes das provas, mergulhadores cuidam de frestas e azulejos

Os sete principais centros de treinamento australianos contam com uma jóia da tecnologia: o sistema de análise de biomecânica. Cada conjunto, avaliado em US$ 60 mil, possui câmeras adaptadas a processadores, que mapeam os trabalhos de pernas e braços dos nadadores e ajudam, por exemplo, a aprimorar as braçadas. Hoje, os melhores atletas de nado livre iniciam a braçada mergulhando a mão para frente e depois realizando a “remada”. Antes, o braço batia na superfície da água. Os italianos desenvolvem um projeto mais modesto, nos mesmos moldes, que produziu três ouros, uma prata e dois bronzes nestes Jogos. “Esses programas fizeram a diferença. O Brasil está dez anos atrasado nessa história”, calcula o técnico Reinaldo Dias.

Cuidado – Como se não bastasse, as feras de Sydney voam numa piscina projetada para facilitar o desempenho. A água transborda em canaletas laterais e volta pelo fundo, evitando marolas. A água sem cloro, purificada por ozônio, é mantida entre 26 e 27 graus, o recomendado pela Federação Internacional de Natação (Fina). A profundidade – 2,20 metros – também é a ideal. As raias, de plástico especial, foram desenhadas para amortecer ainda mais as ondas. Mergulhadores fazem a manutenção de frestas e azulejos. “É a piscina mais veloz do mundo”, confirma o nadador americano Gary Hall. “Isso é fantástico”, faz coro Edvaldo Valério, o Bala, medalha de bronze no revezamento 4 x 100 (leia reportagem nesta edição). O show de tecnologia agora será do atletismo. A superatleta americana Marion Jones, que vai disputar os 100 e 200 rasos, os revezamentos 4 x 100m, 4 x 400m e o salto em distância, deverá entrar nas pistas com o swift suit, a versão terrestre do tubarão criada pela Nike. Os velocistas prometem ainda sapatilhas levíssimas e berrantes, feitas sob medida com materiais que absorvem impacto e criam tração.