O moleque era comprido, magro. Não parecia ter nenhuma possibilidade de virar atleta. Quando ele caiu na água e deu as primeiras braçadas, aos sete anos, o técnico de natação Sérgio Silva percebeu que estava diante de um desses talentos raros para o esporte. “Rapaz, ele era ligeiro demais”, recorda Serjão. A cena aconteceu há 15 anos em um pequeno clube em Salvador, na Bahia. O garoto cresceu e, cumprindo a previsão do treinador, virou uma bala dentro da piscina. Na noite de sábado 16, na piscina hi-tech do Sydney Acquatic Centre, Edvaldo Bala Valério, 22 anos, baiano, tornou-se o primeiro nadador negro brasileiro a ganhar uma medalha olímpica. Como último homem do revezamento 4 x 100m livre, ele assegurou para a equipe brasileira o terceiro lugar e a medalha de bronze nas Olimpíadas de Sydney. “Ele foi sensacional. Segurou tudo no final”, disse Gustavo Borges, segundo a nadar, com o melhor tempo de sua vida, 48s61. A prova deu a Gustavo a quarta medalha olímpica (duas de prata e duas de bronze) e o título de maior medalhista brasileiro.

Comemoração solitária e com a equipe

Bala – 1,94m de altura e 82kg – não se abala com a fama. “Espero que meu sucesso estimule mais negros e pobres do Brasil a buscar na natação uma chance de melhorar de vida”, afirma. Foi o esporte que livrou Bala da pobreza em Itapuã, onde morava com o pai policial, Edvaldo, a mãe dona-de-casa, Aina, e a irmã, Valéria. “Não treinava todos os dias porque faltava dinheiro para pagar a condução”, lembra.

Após vitórias em alguns torneios – venceu um sul-americano –, o nadador foi para a elite da modalidade. Hoje com três patrocínios, Bala mudou-se com a família para uma casa perto do clube. Medalha no peito, ele espera ser convidado por algum trio elétrico em Salvador no Carnaval. Mas o maior desejo é levar a natação aos bairros pobres. “O projeto existe. Reúne crianças de dez a 12 anos, em equipes de suas escolas. Vou ampliá-lo por todo o Nordeste”, sonha. Rapaz, é bom não duvidar.