Max Pinto
"Sou um Ratinho alternativo, palavrão comigo parece coisa de menino levado"

João Francisco Benedan, o João Gordo, vocalista e líder da banda punk-rock Ratos de Porão, 1,85m e 173 quilos de tatuagens e piercings, sobreviveu a todos os tipos de excessos. No início do ano, quase morreu em decorrência de uma insuficiência respiratória devido a uma infecção pulmonar. Agora, se firmou como o mais improvável sucesso da televisão brasileira. À frente do escrachado talk-show Gordo a go go – segundo ele mesmo, a maior audiência da MTV –, o volumoso cantor escandaliza soltando palavrões aos borbotões e fazendo críticas impiedosas a quase todo mundo. Também costuma surpreender seus convidados como quando apalpou os seios da socialite carioca Narcisa Tamborindeguy. Gordo ainda não se sente bem no papel de famoso do “sistema”. Tem lá suas razões. Ele nasceu na periferia paulistana e, antes de ser punk, suportou profissões duras. Foi torneiro mecânico – “fiz tanta mola que não posso ver mola na minha frente” –, quebrou pedra para um laboratório de geologia e foi “capacho de burguês”, trabalhando como recepcionista num flat. Atualmente, seu nome anda em alta no mercado televisivo, mas ele garante que, se fosse convidado, não iria para a Rede Globo. “Nem por um trilhão de dólares”, garante. João Gordo recebeu ISTOÉ nos estúdios da MTV para a seguinte entrevista.

ISTOÉ – Quando você percebeu que levava jeito para apresentador?
João Gordo – Quando eu percebi que era cara-de-pau? Faz tempo. Sempre fui o chefinho da turma, o mais sacana, o mais alegre. É a defesa natural do gordo. Você não é o bonito, nem o fortão, então tenho que ter outros atrativos.

ISTOÉ – O João Gordo da tevê é um personagem?
Gordo – Sou assim mesmo. Mas o que eu faço na banda não tem nada a ver com o que faço na tevê. Na tevê eu passo um bom astral. Eu falo muito palavrão, mas soa natural, não soa agressivo. Sou um grosseiro sutil. Palavrão comigo parece coisa de menino levado.

ISTOÉ – Você já teve problemas por ser tão desbocado?
Gordo – Tive um problema com o Caetano Veloso. Há algum tempo estava falando com um moleque no telefone e ele perguntou: “Qual é a salvação do rock?” Eu respondi: “Acho que é mandar matar o Caetano Veloso.” Não sei se ele assistiu, ou alguém contou para ele. Só sei que veio reclamação. Como o D2 (Marcelo D2, vocalista do Planet Hemp) disse, ninguém pode falar mal dele. Ele é onipotente, todo-poderoso. A direção da MTV me mandou fazer uma retratação ao vivo e não usar nunca mais a expressão mandar matar. Têm pessoas ótimas na MPB, independentemente da música que elas fazem. Mas eu detesto MPB.

ISTOÉ – Você sofre por ser punk e estar na televisão?
Gordo – Tenho minha ideologia, mas sei que não vou mudar o mundo. Sofro muitas cobranças. Se minha banda fosse americana ou européia eu não precisaria trabalhar na televisão.

ISTOÉ – Você toma cuidado com a superexposição?
Gordo – O celular toca o dia inteiro. É gente me convidando para participar do Malhação, do programa Mulheres. Não vou. Não vou vender mais disco se for ao Mulheres e só vai dar ibope para eles. Além disso, se um fã do Ratos me vir no Mulheres é capaz de dar uma catarrada no meu olho. Já fui convidado para fazer filme do Renato Aragão e não fui. Também não fui no Ratinho. Não preciso ir lá. Mas eu gosto dele. Ele é espontâneo como eu. Sou um Ratinho alternativo.

ISTOÉ – O que sua família acha da sua vida errante?
Gordo – Tem uma frase que meu pai falava, coitado, ele odeia que eu fale isso… Mas ele me falava: “Teu fim vai ser na cadeia, na sarjeta ou hospício.” Foi bom provar para a minha família que a profecia não deu certo.

ISTOÉ – Você parou com todos os aditivos?
Gordo – Cigarro faz mais mal que droga. Bebi muito, fiz tudo muito. Quem endireitou minha vida foi a MTV. Hoje bebo, quando a situação é legal. Usar alguma coisa a gente usa, mas não é com a mesma volúpia de antes.

ISTOÉ – Ainda come muito?
Gordo – Sou glutão, gourmet trash. Gosto de coxinha, torresmo, feijoada, paçoquinha e Fanta uva. Faço terapia para não ser tão trash e parar de comer essas porcarias, porque eu sou diabético. Desde o piripaque perdi 50 quilos. Estou com 173 quilos.

ISTOÉ – Está namorando?
Gordo – Estou com uma transinha. Vou levando. Uma pessoa como eu é difícil de arrumar namorada. A mulher tem que ser bem louca para ficar comigo. Nunca tive uma vida afetiva e sexual certinha.

ISTOÉ – Sua geração teve uma infância mais feliz que a de agora?
Gordo – Foi mais sadia. Estou com 36 anos e na minha época, por exemplo, não existia cocaína, que só vi pela primeira vez em 1982. Hoje, na periferia, tem muito moleque fumando crack, tropicando em presunto.

ISTOÉ – Como você tem visto a ação violenta dos skinheads pelo mundo?
Gordo – É uma meia dúzia de idiotas que têm problema sexual muito grande. Querem provar superioridade batendo em minoria. Mas não sou eu quem estou falando. Está provado que essa violência esconde uma tendência homossexual.