Max G Pinto
Elenco da Companhia Musical de Repertório do TBC: próteses genitais importadas de Londres

Gabriel Villela, o mineiríssimo e badalado diretor de teatro – apelidado de sabonete Lux, por ser o preferido das estrelas –, semana passada exultava no palco do reformado Teatro Brasileiro de Comédia, o histórico TBC paulistano. Assistia ao primeiro ensaio geral, com figurino e iluminação, de a Ópera do malandro, musical de Chico Buarque, de 1977, que estréia na sexta-feira 29 como primeira parte de uma trilogia de peças do cantor, compositor, autor e escritor, informalmente batizada de TBC – quem te viu tevê. Na sequência ainda virão Gota d’água, escrita em 1975 com Paulo Pontes, e Calabar, parceria com Ruy Guerra, de 1973, que deverão respectivamente ser encenadas em março e setembro de 2001 pela Companhia Musical de Repertório do TBC. A animação de Villela faz sentido. Baseada na Ópera dos mendigos (1728), de John Gay, e na Ópera dos três vinténs (1928), de Bertolt Brecht e Kurt Weill, Ópera do malandro recebeu por parte do diretor um tratamento brega-chique, que a diferencia totalmente da montagem original. A cenografia do premiado J.C. Serroni, por exemplo, reproduz em três níveis um depósito de mercadorias da afamada Galeria Pajé, ponto comercial do centro de São Paulo, especializado em produtos falsificados e contrabandeados. “O uó do borogodó”, diz Villela, passeando entre paredes feitas de celulares, computadores, saquinhos de cocaína (falsa), garrafas de uísque, calculadoras e outras bugigangas. A idéia é focalizar a falta de identidade e a crise de valores que o País atravessa, com políticos corruptos e juízes sendo caçados pela polícia.

Próteses genitais – Incrementados por próteses genitais compradas em Londres, os figurinos alucinados de Villela e Leopoldo Pacheco, que aproveitaram o tecido e os adereços de mais de 250 vestidos de noiva, ajudam os atores a trocar de personagem a cada ato, transformando o palco num alucinado e grande circo grotesco. O diretor quis vestidos de noiva porque nas três peças de Chico Buarque fala-se de casamento. A seu modo, é verdade. A opção pela trilogia foi feita pelo seu cunho pedagógico e pela oportunidade de trazer para o bairro do Bixiga – que já foi chamado de a Broadway paulistana – uma dramaturgia bem brasileira. Aos 40 anos, com 146 prêmios atribuídos às 17 peças que dirigiu em 11 anos de carreira e recuperado da crise que o acometeu em 1997, quando se internou por uso excessivo de cocaína, o encenador agora se sente tranquilo diante das novas atribuições. Não quer que a peça vá para o Rio de Janeiro enquanto o repertório não estiver completo. Mas é o máximo aonde quer chegar, eliminando a possibilidade de sair em excursão. “Mesmo porque, o único roteiro plausível para a Ópera do malandro seria estrear em Ciudad del Leste, no Paraguai, e encerrar a carreira em Marabá, passando pela Galeria Pajé, Barretos e Aparecida do Norte”, brinca ele. Só faltou citar Brasília. Lá, sim, seria o cenário ideal para um espetáculo que só mostra malandros.


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