O País vive dias de ofensiva petista contra – imagine só! – o próprio governo. Como um partido de oposição, que não é, lançou críticas e queixas abertas à gestão da presidente reeleita Dilma Rousseff, através de alguns dos seus mais estrelados arautos. O ministro Gilberto Carvalho, por exemplo. Integrante do exclusivo bloco de assessores diretos do Planalto, ele veio a público dizer que o diálogo de Dilma com a sociedade foi falho, que ela avançou pouco nas demandas dos movimentos sociais e que lhe faltou a tarimba do antecessor Lula para manter as mesmas relações com “os principais atores na economia e na política”. Nada mais que o senso comum. O problema é ter partido de quem partiu. O que poderia soar como mea-culpa de gestão, uma vez que Carvalho participou ativamente do primeiro mandato, foi interpretado como deslealdade. Muitos notaram ali um recado das hostes lulistas, insatisfeitas com o tratamento recebido. Recentemente, Dilma disse em entrevista não ser influenciada pela opinião do PT. Alegou ser presidente do Brasil e não de um partido. O descaso caiu mal entre os quadros da agremiação. Carvalho, com seu gesto, sinalizou ter tomado as dores. E não foi só ele. A titular da pasta da Cultura, Marta Suplicy, decidiu deixar o ministério. Calculou milimetricamente o momento certo para entregar a carta de demissão – justamente quando a presidente se encontrava em viagem ao exterior para a reunião do G-20. E fez mais: numa artilharia pesada, disse se unir “a todos os brasileiros” rogando o “resgate da credibilidade” pelo governo. Fez menção direta à escolha de uma “equipe econômica independente, experiente e comprovada”, insinuando erros da anterior. O fogo amigo ardeu mais nesses dias que aquele alimentado em meio à guerra eleitoral com a oposição. Hoje alas contrárias ao estilo centralizador e hesitante da presidente ganham vozes dentro do próprio poder, e essas se manifestam claramente. Não por menos, em meio aos episódios, foi articulado um movimento para que todos os ministros colocassem o cargo à disposição. Carvalho e Suplicy, agora desafetos, encabeçaram recentemente o movimento “Volta Lula”, que tentava trocar a chapa da situação na corrida presidencial. O blocão de rebeldes sempre temeu a falta de força de Dilma para dar continuidade ao projeto de poder partidário e receava até mesmo a sua derrota nas urnas. Ela venceu, mas ainda encontra resistência por todos os lados. Para quebrá-la, vai usar sua melhor moeda de troca: a escolha dos nomes a serem contemplados com cargos na administração federal. Está aberta a barganha, no bom e velho fisiologismo, e levará mais quem garanta a sustentação de seu governo e de suas deliberações pelos próximos quatro anos.