IEpag54e55PauloLima.jpg

As duas mulheres da foto são belas, potentes e realizadoras. Em diferentes fases da vida, Érica de Paula, 28 anos, e Irene Adams, 75 anos, movem-se com graça e brilho nos olhos, motivadas pela mesma força: o amor.

Psicóloga por formação e com grande conhecimento científico e prático adquirido por anos de acompanhamento de gestantes e bebês, Érica, além de ser doula, educadora perinatal, acupunturista de gestantes e bebês e coordenadora de grupos de apoio a gestantes, concebeu e produziu o documentário “O Renascimento do Parto”, lançado em 2013, em que denuncia mais uma posição lamentável para o Brasil: ser o único país do mundo onde o número de cirurgias cesarianas é maior que o de partos normais no nascimento de bebês. A OMC (Organização Mundial de Saúde) recomenda que as cesarianas sejam feitas apenas em 15% do total de partos de um país. Sua luta é encampada por milhares de outros especialistas em centenas de instituições de saúde e pesquisa, além de grupos de mulheres de todo o país que diante dessa triste realidade militam pela humanização do parto e nascimento. Uma situação mais razoável em que a mulher e o bebê sejam os protagonistas dessa hora em que realizam aquilo que lhes é mais natural: a capacidade fisiológica de parir da mãe e de nascer do bebê. “O que me levou a fazer o documentário foi a informação de que 25% das mulheres brasileiras são vítimas de alguma forma de violência obstétrica. Aquele que deveria ser o momento mais importante das suas vidas acaba virando um trauma. Muita coisa precisa mudar para que o parto humanizado se torne uma realidade: as leis, a formação dos profissionais, a estrutura hospitalar… Mas eu acredito no que diz Michel Odent (médico obstetra francês pioneiro nas práticas do nascimento humanizado, autor do livro “O Renascimento do Parto”, em 1984) “para mudarmos o mundo precisamos mudar a forma como nascemos” e “tenho certeza de que essa mudança virá pelas mulheres”.

A oncologista holandesa Irene Adams também foi capaz de transformar a realidade ao seu redor. Na década de 1980, preocupada com a disseminação do vírus HIV, recém-descoberto na época, juntou recursos próprios e de doações e mobilizou-se para levar informação e prevenção para os meninos e meninas de rua de Belo Horizonte, cidade onde vive. O que começou como uma pequena clínica no porão de uma igreja, transformou-se no projeto Ammor, Ação Multiprofissional com Meninos em Risco. De lá para cá são 2.500 meninos e meninas de famílias desestruturadas que ela e sua equipe ajudaram de alguma forma. “Quando eu soube da existência da Aids e de sua inscidência em meninos de rua eu levei um susto: “Espera aí. Para que esses meninos contraiam Aids eles devem ser sexualmente ativos. Meu Deus! E eles são. Começam a vida sexual aos 9, 10 anos. Pensei: Como pode? Mas ao me aproximar dessas crianças e jovens fui totalmente transformada. São só crianças! O que fazemos é a educação para a vida através da saúde. Minha missão é resgatar esses meninos para o seu potencial. Esse projeto que tem 25 anos deu significado à minha vida, mas esse significado tem que sobreviver a mim.”

Homenageadas com mais outras oito pessoas que atuam nas mais diversas áreas na oitava edição do Prêmio Trip Transformadores, as duas mulheres de idades, origens e profissões diferentes deram o mesmo recado: as coisas só estarão bem quando estiverem bem para todos. O público de cerca de mil pessoas presentes no Auditório Ibirapuera aplaudiu e saiu transformado. 

Assine nossa newsletter:

Inscreva-se nas nossas newsletters e receba as principais notícias do dia em seu e-mail

Siga a IstoÉ no Google News e receba alertas sobre as principais notícias