Encontrar o presidente da República com um microfone em punho parodiando uma canção de Tom Jobim não é privilégio de dona Ruth. Fernando Henrique é uma das personalidades “homenageadas” pelo polêmico charges.com.br, site responsável por colocar na rede as recém-inventadas charges-okês, espécie de cartum multimídia no qual os desenhos ganham voz e movimento para reinterpretar sucessos da MPB. Enquanto o presidente canta Corcovado, um cartum de Rubinho Barrichello arrisca uma versão para lá de debochada de O bom, Feiticeira e Tiazinha dividem Estúpido cupido e Wanderley Luxemburgo entoa Salve a seleção. De quebra, Romário pede para ser escalado aos acordes de Ursinho Pimpão. Até um hipotético Paulo Maluf, terceiro colocado na corrida pela Prefeitura de São Paulo, já passou por ali e deixou registrada uma paródia para lá de subversiva de Sampa, de Caetano Veloso. Preocupado com os efeitos da charge em sua campanha, o verdadeiro Maluf indignou-se com a petulância do cartunista e encaminhou um pedido de direito de resposta ao Tribunal Regional Eleitoral do Estado. A ação foi julgada improcedente pelo juiz Décio de Moura Notarangeli, que não considera a internet um veículo de comunicação social, passível de direito de resposta.

Tiazinha e Feiticeira: desenhos ganham voz e movimento

No mastro desse enorme barraco cibernético está o jornalista Maurício Ricardo Quirino, 36 anos, dono da página e morador de Uberlândia, no triângulo mineiro. Ele se considera um dos pioneiros na adaptação da charge para a rede. “Muitos cartunistas começaram a disponibilizar seus trabalhos na internet, mas sem aproveitar as possibilidades que o suporte oferece. Não adianta manter as mesmas características do desenho em papel. A rede possibilita movimentos, sons, brincadeiras”, explica. Cartunista há 20 anos, Quirino, lançou o charges.com.br em fevereiro e, em abril, já assinava contrato com o portal ZipNet. Sem grandes estratégias de marketing, ele garante ter recebido 2,3 milhões de visitas em agosto. Optei pelo método Che Guevara de divulgação. É a tática da guerrilha. Eu incentivo o público a mandar minhas charges por e-mail a seus amigos, estabelecendo focos guerrilheiros”, diz. Após o incidente com Maluf, Quirino não demorou para tirar o candidato do ar, mas ainda considera a letra um exemplo de humor engajado (leia acima).

Sampa cantada por maluf

Alguma coisa acontece em tempo de eleições. Parece que o povo esquece quem são os ladrões. Bandido de carteirinha, na televisão, Fica falando de plano, programa e meta. O lugar desses vagabundos era no ‘Linha direta’. Aí, depois que o cara é eleito, acabou não tem jeito, Taí o exemplo do Pitta. Digo que sou diferente e o povo acredita… Com o papo do rouba mas faz, tô bonito na fita.”