Incorporadas pelos americanos nos anos 60, as promoções do Black Friday, sempre em novembro, são por lá tão tradicionais quanto o peru no jantar de Ação de Graças. Mais do que isso: são elas que dão fôlego adicional aos varejistas, sobretudo em períodos de crise, para girar o estoque antes das festas de fim de ano. Nos Estados Unidos, os quatro dias que começam com o Black Friday, na sexta-feira seguinte ao feriado de Ação de Graças, e terminam com o Cyber Monday, segunda-feira de descontos focados no comércio online, geraram US$ 57,4 bilhões só no ano passado. Não por acaso, os varejistas brasileiros esperam repetir o mesmo sucesso. Pautada pelo calendário americano, a liquidação do dia 28 de novembro deve coincidir com um evento tipicamente nacional: o pagamento da primeira parcela do 13º salário. Por isso, a expectativa de faturamento está acima de R$ 700 milhões, mas os mais otimistas projetam até R$ 1 bilhão – em 2013, a data movimentou R$ 424 milhões. Num ano pouco empolgante para a economia, a sexta-feira negra pode apresentar resultados surpreendentes.

abre.jpg
OFERTA
Loja apresenta desconto em São Paulo. O Black Friday engatinha nas
lojas físicas, mas já é melhor que o Natal para o comércio online

Ainda que tímido no varejo tradicional, o evento se tornou a principal data para o comércio eletrônico brasileiro ao oferecer, em média, 30% de desconto em produtos e serviços, e é visto como obrigatório para as grandes marcas. “O Black Friday vem ganhando força e já faz parte do calendário do varejo brasileiro ao lado de datas tradicionais, como o Dia das Mães”, diz Patrícia Alves Nina, vice-presidente comercial do Walmart no Brasil. A rede de hipermercados, que iniciou o planejamento da data há seis meses, espera um crescimento próximo de 10% nas vendas deste ano. Em 2013, a alta foi de 20%, impulsionada pela comercialização de tablets que, num só dia, superou o volume de todo o mês anterior. Os números deram subsídios para o Walmart negociar grandes descontos com os fornecedores neste ano.

01.jpg

Na estratégia dos varejistas, também está a redução das margens de lucro para dar lugar a descontos vantajosos e evitar a maquiagem de preços que, em anos anteriores, afetou a credibilidade do evento. Por isso, agora as lojas se comprometem a sinalizar os produtos participantes no site e as ofertas são regularizadas pela Câmara Brasileira de Comércio Eletrônico. Maior varejista online de artigos infantis no País, a Tricae promete reduções de até 70% nos preços e espera um faturamento 300% maior que no ano anterior. “A agressividade do mercado eletrônico é muito maior do que a das lojas físicas”, afirma Marcelo Karsouni, sócio-diretor da Tricae. Reynaldo Saad, sócio da área de varejo e bens de consumo da Deloitte, observa que a maior parte das marcas que fazem promoção do Black Friday nas lojas físicas é multicanal e trabalha, ao mesmo tempo, com comércio online, mobile e mídias sociais. “Ainda não houve a consolidação no Brasil, mas o consumidor espera cada vez mais dessa data”, afirma. Um sinal disso está numa pesquisa feita pela consultoria, que mostrou que 43% dos consumidores pretendem antecipar as compras de fim de ano para novembro, o maior índice em cinco anos.

02.jpg

A mudança de hábito do consumidor brasileiro, que costumava deixar tudo para a última hora e agora até tenta se planejar com a encomenda de presentes que cheguem a tempo das comemorações, tem estimulado as empresas a antecipar a contratação de mão de obra temporária. Braço de comércio eletrônico do Grupo Casino, a Cnova abriu 600 dessas vagas em seus centros de distribuição para atender à demanda. “Sem exagero, já começamos a pensar no Black Friday do ano que vem”, diz Vicente Rezende, diretor-executivo de marketing da Cnova, dona das marcas Extra.com.br, PontoFrio.com e CasasBahia.com.br.

Fotos: Patricia Stavis/ag. O Dia; Almeida Rocha/Folhapress; Cem Ozdel/Anadolu Agency/Getty Images