Foi Millôr Fernandes quem contou para o Brasil da poesia de Manoel de Barros. O poeta mato-grossense, que morreu na quinta-feira 13, aos 97 anos, em Campo Grande, deixou o circuito dos entendidos em poesia nos anos 1980, quando Millôr escrevia para Istoé. Até ali, as páginas publicadas pela editora Civilização Brasileira tinham caído no gosto de gente como Antonio Houaiss e Carlos Drummond de Andrade, para quem o colega era o maior poeta brasileiro vivo.

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"A maior riqueza do homem é sua incompletude. Nesse ponto sou abastado"
Manoel de Barros

Crescido no Pantanal e entusiasta do socialismo, Manoel de Barros deixou o Brasil nos anos 1940, quando Carlos Prestes, líder do Partido Comunista Brasileiro (PCB), declarou apoio ao então presidente Getúlio Vargas. Na volta ao país, casou-se e foi viver na antiga fazenda de família em Mato Grosso. Quase tudo que escreveu – 18 livros de poesia, dois dos quais lhe valeram o Prêmio Jabuti – nasceu da observação do cotidiano rural da sua terra natal. Animais, plantas e paisagens brejeiras atravessam quase toda a sua obra. Seu lirismo era visto como uma resistência ao domínio do concretismo. Mas o poeta evitava comparações. Quem o conheceu, conta que vivia como escrevia, com a simplicidade dos sábios. Houaiss o chamava de “o visionário da simplicidade”. Manoel de Barros ficava encabulado com elogios, mas agradecia pelo “agrado ao coração”

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O escritor morreu em decorrência de complicações de uma cirurgia de desobstrução intestinal. Mas desde o começo do ano estava acamado, devido a um AVC. Seu último livro, “Menino do Mato”, de 2010, cantava a formação intuitiva da infância rural. Os direitos autorais sobre a sua obra, os volumes de poesia e dois livros para crianças, passam no ano que vem para a Alfaguara, braço da editora Objetiva. Mas a editora Leya ainda tem disponíveis os 18 livros reunindo a obra poética que Millôr Fernandes chamava de “o apogeu do chão”. 

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Foto: Mônica Imbuzeiro / Agência O Globo