Alan Rodrigues
Frei Davi, líder da Educafro, vai processar o Estado: universidade grátis para carentes

O brasileiro que se matriculou na escola para estudar e não aprendeu talvez consiga, daqui para a frente, ser ressarcido. Ganha força um movimento que pretende exigir do Estado indenização para alunos com defasagem escolar, que acabam impedidos de continuar seus estudos. Se cada brasileiro prejudicado pela precariedade do ensino público tomar essa iniciativa – e a Justiça acatar o pedido – haverá um rombo inimaginável nos cofres do governo. “O objetivo é criar um movimento de consciência pelo direito à educação, usando também o caminho jurídico”, explica o frei franciscano Davi Santos, um dos líderes da Educafro, ONG que organiza cursinhos pré-vestibulares comunitários no Rio e em São Paulo para alunos carentes. “Vamos pegar casos exemplares para exigir que a Justiça indenize os alunos e lhes dê uma faculdade particular de qualidade. O Estado enganou esses jovens, concedendo estudos de péssima qualidade e tirando deles a capacidade de disputar uma vaga na universidade”. A Educafro vai encaminhar ações na Justiça contra as secretarias estaduais de Educação do Rio e de São Paulo, em nome de estudantes que passaram de ano, mas não aprenderam. Frei Davi revelou que 40% dos alunos carentes inscritos nos cursinhos pré-vestibulares comunitários – a maioria negra – desistem após os três primeiros meses de aula, por causa da defasagem.

Helcio Nagamine
Famílias de alunos como R. reclamam do ensino

Dezoito mil alunos estão inscritos hoje nesses cursinhos em todo o País. A Educafro foi a responsável por dezenas de processos contra universidades públicas a fim de obter a isenção de taxas de exames vestibulares para alunos sem recursos. Recentemente, 60 mil estudantes deixaram de pagar os R$ 25 exigidos para fazer o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), graças ao movimento. No total, 100 mil estudantes já foram beneficiados por essas ações. Frei Davi acredita, agora, num efeito multiplicador. “Os diversos setores da sociedade poderão usar o mesmo caminho.” O secretário de Educação Média e Tecnológica do MEC, Ruy Berger, admite a má qualidade de ensino, mas ressalta a importância dos processos de avaliação criados recentemente que permitiram a detecção desse quadro. “Começamos a ter parâmetros mais claros para transformar. Mas não adianta só responsabilizar um ou outro”. Berger critica a iniciativa. “O movimento deveria era mobilizar a comunidade para estar mais atuante nas escolas.” Mães de alunos como a comerciante Rosemeire Beviani apóiam a iniciativa. Seu filho, R., 12 anos, está na sétima série do ensino fundamental, mas lê e escreve mal, segundo a mãe. “Já reclamei com a diretora, mas ele passa de ano porque não tem mais repetência”, reclama a mãe. No futuro, o menino enfrentará dificuldades quando tentar ingressar numa universidade. A indenização é uma questão polêmica, mas pode dar dores de cabeça ao governo.