Uma casa com mais de dois mil metros quadrados à margem do Tarumã, mais um depoimento de um antigo acusador e algumas perícias técnicas são fatos novos que poderão reabrir um inquérito contra o governador do Amazonas, Amazonino Mendes (PFL). As investigações inicialmente conduzidas pela Procuradoria da República no Amazonas foram arquivadas prematuramente em janeiro pelo procurador-geral da República, Geraldo Brindeiro. Desde 1996, Juarez Barreto Filho, um brasileiro naturalizado americano, dono da North American Export Agencies, acusa Amazonino de receber propinas em uma conta no Maryland Bank. Ele prestou três depoimentos, apresentou xerox de cheques, da ficha de abertura da conta e de um extrato bancário. Em maio, ISTOÉ revelou que mesmo com toda essa papelada, o caso acabou arquivado porque Brindeiro recebeu uma carta assinada pelo próprio Barreto desmentindo o que dissera antes. Em junho, o empresário negou ter assinado a carta e no final de agosto prestou um quarto depoimento reafirmando os três anteriores. O problema é que uma perícia grafotécnica, divulgada na última edição de ISTOÉ, comprovou que a assinatura era mesmo de Barreto, um empresário envolvido em negócios suspeitos no Brasil e nos EUA.

“Não importa os antecedentes do denunciante. O que ele diz é grave e precisa ser investigado”, afirma o deputado estadual Mário Frota (PDT-AM). O governador reage. Assegura que Barreto é um falsário. “Ele apresenta cópias forjadas como sendo documentos autênticos”, diz Amazonino, que está contratando o advogado Aristides Junqueira, ex-procurador-geral, para processar seu acusador. Na quinta-feira 14, ISTOÉ teve acesso a uma nova perícia sobre o caso. Os peritos Ricardo Molina, Donato Pasqual Júnior e Helena de Souza Brito constataram que as três assinaturas atribuídas ao governador na xerox da ficha de abertura da conta são, na verdade, cópias reduzidas uma da outra. “A assinatura pode ter sido retirada de um outro documento e sobreposta a uma ficha ainda em branco”, explica o perito Molina.

Além da perícia, outros elementos apontam para uma suposta falsificação do documento apresentado por Barreto. Toda a ficha foi preenchida por uma mesma pessoa, o que não é habitual nos bancos. Em geral, o próprio cliente preenche seus dados, mas os campos reservados ao número e tipo da conta são preenchidos pelo funcionário do banco. Outro ponto curioso é o fato de o banco ter aceitado a abertura de uma contra sem que fosse mencionado o número de um único documento do correntista. No caso, esse campo está preenchido apenas com o dizer “passport”. “Não falsifiquei nada e vou provar isso no momento oportuno”, diz Barreto. “É evidente que o documento é uma fraude”, responde o governador. “Vamos provar isso na Justiça tanto do Brasil como dos Estados Unidos.”
Esclarecer todas essas dúvidas é uma questão de investigação. Brindeiro já requisitou as perícias a que ISTOÉ teve acesso e os documentos referentes à construção da casa do Tarumã. Depois de analisar esses novos dados ele irá decidir se reabre as investigações ou se mantém o caso na gaveta, por insuficiência de provas contra o governador
.