Uma das funções mais amargas do jornalismo é aquela que nos obriga a relatar
as tragédias e os dramas vividos pelas pessoas. Essa tarefa leva o profissional, muitas vezes, a invadir privacidades – mesmo que de maneira consentida – e a conviver com a dor alheia, com o devido respeito a situações críticas e ao mesmo tempo com a atenção preservada para cumprir com eficiência esse ofício. A amargura é um problema a ser enfrentado, evidentemente, por jornalistas sen-
síveis. Aqueles passíveis de se emocionar com as mazelas alheias. E por que
há que se relatar esses dramas? No caso do jornalismo ético, eficiente e bem praticado não é, com certeza, para alimentar a voracidade da opinião pública pelas tragédias. Também não é pela “divulgação e exploração, em tom espalhafatoso, de matéria capaz de emocionar ou escandalizar”, segundo definição do Aurélio
para a palavra “sensacionalismo”.

E foi sem nenhum sensacionalismo que a repórter Eliane Lobato, da sucursal de ISTOÉ no Rio, deu conta de sua árdua tarefa de conversar com os familiares do engenheiro João José de Vasconcellos Jr. em Juiz de Fora (MG). Ele foi, há cerca
de 50 dias, sequestrado no Iraque, quando se encaminhava ao aeroporto para voltar ao Brasil. Eliane muniu-se de sua sensibilidade, respeito e eficiência jornalística e conversou com os parentes do engenheiro. O drama dessa família movida a esperança é sintetizado nas palavras de Lourdes, a mãe de João José:
“Deus está guardando nosso filho para que ele nos seja devolvido são e salvo.”
Essa energia é reforçada por apelos internacionais previstos para serem feitos pelo jogador Romário, além de manifestações nos campos de futebol em jogos do campeonato carioca, com os times usando camisas com a foto do engenheiro. A reportagem de Eliane certamente servirá para engrossar esse movimento e dará a necessária visibilidade ao caso.

Também longe do sensacionalismo está a denúncia feita pelo fotógrafo de ISTOÉ Alan Rodrigues. Ele teve acesso a um documento da embaixada brasileira em Caracas, na Venezuela, assinado pelo embaixador João Carlos de Souza-Gomes. No documento enviado a Brasília em 1/9/2004 – mas sem nenhum tipo de providência nem repercussão até agora –, o embaixador relata a condenação e a prisão de garimpeiros brasileiros na cidade venezuelana de Puerto Ayacucho, a 900 quilômetros da fronteira do Brasil. Isso é muito grave. Mas muito mais grave é que entre os presos há três índios ianomâmis, pessoas com prerrogativas especiais previstas em leis e em acordos internacionais.

Voltando à pergunta sobre para que servem os relatos de dramas. Nos casos

acima serve para alertar, mobilizar e ajudar a encaminhar algum tipo de solução positiva por parte de autoridades daqui do Brasil e do resto do mundo. Essa é

uma das funções do jornalismo.