Nos últimos 30 anos, a Apple lançou mais de uma centena de produtos. Quase todos fizeram sucesso – e um bom dinheiro – durante longos períodos, mas depois enfrentaram o declínio natural que fustiga equipamentos da área de tecnologia. Mesmo criações recentes da empresa já se deparam com a inevitável decadência. Após o turbilhão que provocaram há uma década, os iPods agora estão perto do fim. O balanço divulgado pela Apple há alguns dias confirma essa regra, mas traz uma notável exceção. Apresentado com estardalhaço por Steve Jobs em 1984, o computador Mac continua vivo e forte. Claro, o trintão foi totalmente remodelado e, graças à genialidade de Jobs, trouxe inovações que mudaram a indústria. Mesmo assim, é de espantar que a linha Mac não apenas sobreviva, como gere fortunas para a companhia. “Nossos clientes são absolutamente fiéis e apaixonados pelos Macs”, disse Phil Schiller, vice-presidente de marketing da Apple, durante uma apresentação.

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LONGEVIDADE
Cook, presidente da Apple (acima), Jobs no lançamento do
primeiro Mac, em 1984, e loja da empresa em Nova York:
sucesso que dura gerações

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O balanço da Apple traz dados surpreendentes. No quarto trimestre do ano fiscal encerrado em setembro de 2014, a linha Mac gerou receitas de US$ 6,6 bilhões. É mais do que os US$ 5,5 bilhões de faturamento da linha iPad, até pouco tempo atrás a maior responsável pelos números soberbos da Apple. Em termos de geração financeira, os Macs só ficam atrás dos iPhones, ocupando agora a vice-posição – que antes pertencia aos iPads. Mais do que isso: a tendência é que a distância entre eles aumente. Com salto de 21% em unidades vendidas, ante queda de 7% dos iPads (que começaram a apresentar certo desgaste), os Macs ampliaram sua fatia no mercado global de PCs, de 2,1% em 2006 para mais de 6% hoje em dia. O interessante é que o computador de mesa da Apple avança num momento em que esse tipo de equipamento vem sendo desprezado pela nova geração, adepta principalmente dos smartphones.

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O que explica a longevidade dos Macs? Para o presidente da Apple, Tim Cook, uma das principais razões está num produto da casa: o iPhone. Segundo ele, o celular funciona como porta de entrada para clientes que antes não conheciam o computador da Apple – é o chamado efeito halo. Para alimentar essa relação, a Apple vem lançando uma série de dispositivos que permitem que seus dois produtos mais nobres trabalhem juntos (como começar a escrever um e-mail em um iPhone e continuar o texto no Mac). Mas esse não é o único motivo. Cook também destaca o fato de a Apple ter parado de cobrar pelas atualizações do sistema operacional do Mac (uma bobagem que afugentava clientes) e aponta a política de redução de preços praticada pela empresa como um chamariz importante. Os Macs sempre custaram muito mais do que PCs convencionais, mas nos Estados Unidos hoje já é possível comprar modelos a partir de US$ 1 mil – um terço do preço mínimo de uma década atrás. Além de todas essas razões, há uma que talvez faça a maior diferença. Os Macs são cultuados por uma legião de fãs (especialmente publicitários, designers, arquitetos e profissionais da área de artes), que se recusam a olhar para a concorrência. Eles têm motivo de sobra para isso.

Fotos: Jeff Chiu/AP; UPI Photo/Eeyevine/Glow Images; PETER STEFFEN/AFP