Da mesa dos vegetarianos para os centros de pesquisa. A soja chama cada vez mais atenção dos cientistas, interessados em avaliar suas propriedades nutritivas e medicinais. Investiga-se sua capacidade de amenizar sintomas do climatério (período que antecede a última menstruação) e seus benefícios para o coração. Nos Estados Unidos, a valorização da leguminosa promoveu um aumento de consumo de cerca de 35% em 1999. A venda cresceu mais depois que o FDA (agência americana que regulamenta o comércio de alimentos) divulgou há quatro meses que produtos com proteína de soja podem baixar os níveis de colesterol. A participação na mesa do brasileiro também tende a crescer. Primeiro por causa da variedade nos supermercados, que oferecem desde os tradicionais molho shoyu e pasta para missô (sopa japonesa) até carnes vegetais, leites, soja granulada ou em pó e sucos. Outro estímulo é a adesão de mais gente à culinária natural, em que a leguminosa reina como prato de resistência. “As pessoas estão mais atentas à qualidade dos alimentos e os seus benefícios para a saúde. Hoje, para virar naturalista, não é necessário ter justificativas filosóficas, como nos anos 70”, explica a nutricionista Maria do Céu Maruxo, dona do restaurante vegetariano Céu Natural, em São Paulo.

Renato Velasco
Rodrigo realça o sabor do ingrediente com ketchup e azeite

Troca – Reconhecida fonte de fibras e proteínas, quando é servida na companhia de cereais (arroz ou milho, por exemplo) a soja sobe um degrau nutricional e chega perto do poder nutritivo de um bifinho. Esse argumento pesou na decisão do violonista carioca Rodrigo Machado da Silva, 21 anos, que há um ano substituiu as carnes bovina e de ave pela proteína texturizada de soja. Nem a denúncia feita pelo Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor, em junho, de que muitos produtos continham soja geneticamente modificada, afetou sua mudança alimentar. “Queria comer de um jeito mais saudável. As refeições de soja são leves e não sinto mais o estômago pesado na hora da digestão. Além disso, é fácil de preparar e mais barata. Seria uma ótima opção contra a desnutrição”, afirma. Quando vai para a cozinha, ele mistura a soja com creme de leite, ketchup, azeite e outros condimentos para torná-la mais apetitosa. Rodrigo está certo. “A soja pode ser preparada de maneira criativa para driblar o sabor dos grãos, que não agrada o paladar brasileiro”, concorda Maria do Céu. Ela desenvolveu receitas de macarrão à bolonhesa, quibe assado e até berinjela à indiana feita com soja.

 

 

Bolonhesa integral
Rende 4 porções

Ingredientes
Meio pacote de espaguete
8 tomates maduros e firmes picados, sem pele e sem sementes
1 xícara (chá) de proteína
vegetal texturizada (encontrada em supermercados)
1 litro de água quente
3 dentes de alho cortados em lâminas
1 colher (sopa) de azeite de oliva
1 colher (chá) de sal

Modo de Fazer
Cozinhe o espaguete, escorra e reserve. Coloque a proteína de soja de molho na água quente por 20 minutos. Escorra, esprema bem e reserve. Refogue o alho no azeite até dourar. Adicione os tomates, o sal e refogue por 5 minutos em fogo baixo. Bata no liquidificador e leve de volta para a panela. Acrescente a proteína e ferva por 1 minuto em fogo baixo. Coloque o espaguete no prato e despeje o molho por cima. Sirva em seguida.

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Mas é dos consultórios de ginecologia que sopram os ventos mais fortes a favor da soja. Em julho, pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) concluíram que doses diárias de isoflavona, um dos nutrientes do grão, são eficientes no controle de sintomas do climatério e da menopausa (última menstruação), como ondas de calor e cansaço. Os efeitos foram constatados em 85% das 80 mulheres que participaram do estudo. Uma delas, a professora Rita de Cássia Cruz da Silva, 37 anos, livrou-se das náuseas e ondas de calor que sentia durante a reposição de estrogênio e progesterona (hormônios femininos) sintéticos após a retirada do útero e ovários. “Com as cápsulas de isoflavona, os sintomas pararam”, diz. O problema é que ela precisa tomar oito comprimidos por dia porque falta tecnologia para fabricação de pílulas com concentrações maiores da substância.

Na segunda etapa da avaliação, os especialistas medirão a ação da isoflavona na prevenção da osteoporose (doença caracterizada pela perda de massa óssea). “Por enquanto, a isoflavona é indicada para mulheres no climatério e na menopausa com insuficência hepática, histórico de câncer de mama na família ou trombose. E serve também para as que desejam um tratamento natural”, defende o ginecologista Kyung Han, da Unifesp. Apesar dos resultados comprovados, ainda não há consenso sobre as indicações. O ginecologista Salim Wehba, da Faculdade de Medicina da Santa Casa de São Paulo, considera fraca a ação da isoflavona na redução do colesterol e acha que ela só deve ser recomendada se os sintomas do climatério não tiverem grande intensidade. Ainda não há previsão de comercialização das cápsulas de isoflavona no Brasil. Mas quem se encantar com a aura medicinal da soja pode seguir as recomendações do FDA e adicionar à alimentação diária pelo menos 25 gramas do grão cozido (meio copo americano) ou beber três xícaras de leite de soja, que também podem ser trocados por quatro pedaços de tofu, condimentados a gosto.

Desejo de volta

Há outras alternativas para melhorar a vida das mulheres no climatério. Estudo publicado no The New England Journal of Medicine comprova que a reposição de testosterona (hormônio importante para o desejo sexual) por meio de adesivo traz de volta a libido e o prazer daquelas que tiveram a vontade diminuída nesse período. Esse fenômeno ocorre justamente por causa da queda na produção do hormônio verificada no climatério. A reposição com adesivo foi desenvolvida por médicos americanos como uma alternativa à reposição feita por meio de comprimidos.


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