Ricardo Giraldez
Cobras: O biólogo tem uma coleção delas, além de outros animais esquisitos como lagartos australianos, criados em sua casa

Não só de brincadeiras e desenhos do Pokémon vive o programa Eliana & Alegria (Rede Record). Outro quadro, apresentado pelo biólogo Sérgio Rangel Pinheiro também é um sucesso. Durante dez minutos, às terças e sextas-feiras, entre nove e dez horas, a primeira hora do programa, Sérgio leva bichos estranhos e ensina tudo o que sabe sobre eles para as crianças. Outro dia, ele levou um ovo de tubarão, para espanto até da loira. Pela cor e transparência do ovo, Sérgio sabia que o peixinho estava para nascer a qualquer momento. Mesmo assim, contou com a sorte. O ovo quebrou quando ele estava mostrando ao vivo e em cores na tevê. “Foi uma emoção”, afirma. “A criançada não acreditou quando viu o tubarão sair da casca.” Por essas e por outras, ele recebe 800 cartas por semana. “Sou o grande rival dos Pokémons”, brinca.

O carioca Sérgio trabalha e mora ao lado do Zoológico de Sorocaba, interior de São Paulo, há nove anos. Ele mesmo tem o seu “acervo” particular. Cria cachorros, tartarugas, corujas, cobras e lagartos, literalmente. Quando não encontra em casa algo interessante para mostrar no programa da Eliana, apela para a loja paulista Tecnomarim. Lá ele encontra tubarões de até dois metros de comprimento e uma infinidade de outros seres incríveis como aranhas, morcegos, macacos e outros bichos. Quase sempre importados. O Ibama proíbe a exibição de animais brasileiros nos programas de tevê. Os animais exóticos, ele encontra em coleções particulares ou manda trazer de outros criadores do Exterior.

Ricardo Giraldez
Lição: Eliana também quer aprender

Feliz – Casado há nove anos com a também carioca e bióloga Valéria, ele se acha um homem muito feliz. “Curto trabalhar com Eliana, sou feliz no casamento e nós dois adoramos conviver com os nossos bichos e plantas”, diz ele. Antes de optar por biologia, Sérgio fez teatro no Tablado, Rio de Janeiro, e chegou a ganhar vários prêmios como ator. Mas o amor pelos animais falou mais alto. Agora, ele também virou astro da tevê. Ou seja, uniu o útil ao agradável. Para viver essa felicidade toda, no entanto, Sérgio trabalha muito. Não fala quanto ganha na Rede Record, mas a carteira assinada pelo zoológico registra R$ 1 mil por mês, sem hora extra. Não é difícil, por exemplo, ele ser chamado no meio da noite para acalmar a elefante Hayzza, doada ao zôo por Beto Carrero. “O mais engraçado é que eu tenho de falar com ela em inglês. Depois de ouvir a minha voz, ela se acalma e eu posso dormir”, conta ele. Mais ainda, além de amansar o bicho falando “good girl” (boa garota), Sérgio tem paciência para o elefante Sandrão entender que está no zôo, junto de Hayzza para procriarem. “Há três anos espero que ele perceba como se faz. Os animais selvagens aprendem a fazer sexo vendo os outros. No cativeiro, ele não tem essa referência, mas uma hora ele vai entender.” Enquanto isso, Sandrão se masturba e joga fora o sêmen pela tromba. “Os visitantes do zôo pensam que ele está cuspindo!”, sorri o biólogo.

Histórias engraçadas não faltam no dia-a-dia do biólogo, que prefere animais a seres humanos. “Tenho muito mais medo dos homens que matam por nada. Já os animais, mesmo os predadores matam para sobreviver.” Apesar de tanta admiração pelo mundo animal, Sérgio não é nem um pouco radical. Come carne à vontade. “Boi, vaca e galinha são criados para a gente comer mesmo.” Ele também tem ressalvas a alguns bichos como pombas e pardais. “As pombas só transmitem doenças ruins e os pardais, vindos de Portugal, são lazarentos, se reproduzem muito fácil.” Os pardais, conta ele, colonizam as áreas em que passam espantando pássaros silvestres como coleirinha, tico-tico e tiziu, hoje em extinção.

Outra coisa que tira o biólogo do sério é a maneira pela qual as pessoas tratam os animais. Certa vez, um menino jogou uma maçã cheia de giletes para um macaco. O bicho viu o brilho das giletes e esnobou a fruta. O zelador do zoológico testemunhou a cena. Resultado: o pai do garoto foi preso. “É assim que os pais educam os filhos, pode?”, pergunta o biólogo como se procurasse uma resposta razoável para uma atitude tão irracional num ser humano.

Fotos: Alan Rodrigues
Pela cor do ovo, o estudioso sabia que o tubarão estava para nascer. A criançada vibrou com a cena