Ninguém duvida da gravidade da Aids. Ainda assim, a cada dia surgem alternativas mostrando a possibilidade de se conviver com a doença. A mais recente experiência está relatada na tese de mestrado da psicóloga Silvia Venske, defendida na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). O trabalho comprovou que crianças soropositivas, mesmo sujeitas às complicações decorrentes da enfermidade, como a pneumonia, são capazes de aprender tão bem quanto as saudáveis. “Elas não precisam de escolas especializadas. Os professores é que devem aprender a lidar com a questão”, afirma Silvia.

A conclusão foi obtida após a aplicação de testes que analisaram o raciocínio em 44 crianças, entre dois a dez anos, do Centro de Atendimento da Disciplina de Infectologia Pediátrica (Ceadipe) da Unifesp. A pontuação da garotada precisava estar na média alcançada pelas crianças sadias quando fazem a prova. E o resultado foi um sucesso. Cerca de 88,6% dos pacientes tinham inteligência normal contra 11,4% com leve retardo mental, mas nesse caso a doença já estava em estágio avançado.

Os resultados do estudo – orientado pela infectologista Regina Succi, uma das especialistas mais conhecidas na comunidade médica – contestam pesquisas internacionais que sugerem que o aprendizado dos pequenos fica comprometido porque o vírus ataca o sistema nervoso central. Isso de fato acontece. Mas os pesquisadores explicam que as crianças brasileiras tiveram sucesso devido a dois fatores. O primeiro é que os participantes do estudo são atendidos no ambulatório do Ceadipe e têm acesso a medicamentos que controlam a doença. O segundo é o carinho que os pacientes mirins recebem de pais e médicos. Os testes feitos pela pesquisadora mostraram que somente o uso de remédios não colabora para o desenvolvimento das crianças. De acordo com Silvia, o principal mesmo é o apoio psicológico e carinhoso que elas recebem no centro e a orientação dada aos familiares. Se a criança é discriminada, pode ter dificuldades de aprendizado.

A dona-de-casa R. A., 38 anos, sabe a importância do amor na criação do filho Rafael (nome fictício), de dois anos e meio. O menino adquiriu o vírus da Aids ainda no útero da mãe. Depois que ele nasceu, R. ficou sabendo do diagnóstico e o levou para o Ceadipe. “Por causa do atendimento que recebemos aqui, ele está se desenvolvendo muito bem”, comemora.