Pouco depois de apresentar com entusiasmo os lançamentos da Fiat Chrysler Automobiles no 28o Salão Internacional do Automóvel de São Paulo, na terça-feira 28, Cledorvino Belini, presidente da empresa para a América Latina, concedeu uma entrevista exclusiva à ISTOÉ. As palavras, cautelosas e escolhidas a dedo, manifestam a expectativa do mercado para o futuro próximo. “O Brasil tem um potencial imenso, mas precisa de desenvolvimento econômico”, disse Belini. “Depois de ser eleita, a presidenta reconheceu que é hora de promover mudanças. Acreditamos que elas vão acontecer.” Apesar de o Brasil ter pisado no freio nos últimos meses, a Fiat manteve planos ambiciosos. Belini anunciou que a montadora vai investir R$ 15 bilhões no País até 2016. No primeiro semestre de 2015, a Fiat inaugura uma nova planta em Pernambuco, onde vai fabricar o Jeep, marca adquirida recentemente pelo grupo. Se a economia brasileira parou, a indústria automobilística quer acelerar.

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VITRINE
Abertura do Salão em São Paulo: exposição de 500 veículos de 41 marcas

O discurso da mudança predominou nos 85 mil metros quadrados do Pavilhão de Exposições do Anhembi, onde estarão expostos, até o dia 9 de novembro, 500 veículos de 41 marcas. O evento funciona como uma espécie de termômetro do mercado. Com os lançamentos apresentados na feira, as montadoras esperam despertar nos 750 mil visitantes o desejo de comprar um carro novo. Há máquinas para todos os bolsos. Uma das apostas desta edição são os veículos de luxo, setor que, até agora, não viu a cor da crise. Nos últimos dois anos, as vendas da Jaguar Land Rover dispararam 500% no Brasil (com a ressalva de que, como a base de vendas é pequena, oscilações fortes são comuns). De janeiro a setembro de 2014, a Audi colocou na praça o dobro de carros do que no mesmo período do ano anterior. O bólido mais caro exposto no Salão é o Porsche 918 Spyder, que faz de 0 a 100 km em 2,6 segundos, quase a velocidade de um Fórmula 1. O preço da brincadeira: R$ 4 milhões.

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HORA DE CRESCER
Belini, da Fiat: "O Brasil tem potencial imenso,
mas precisa de desenvolvimento econômico"

A edição 2014 do Salão traz uma boa safra de novidades. A começar pelo Jeep Renegade, que promete fazer barulho entre os utilitários esportivos pelo preço acessível (começa em R$ 70 mil). Outros lançamentos com valores convidativos são o Peugeot 2008, crossover compacto cotado a R$ 60 mil, e o Volkswagen Cross UP (a partir de R$ 39 mil). Uma das líderes do mercado nacional, a Volks, a exemplo da Fiat, não vai segurar seus aportes no País. Serão R$ 10 bilhões até 2018. “Nossos investimentos são de longo prazo”, diz o presidente da empresa, Thomas Schmall. “Nenhuma montadora vai basear seus investimentos um em um único governo ou no câmbio atual.” Em sua apresentação no Salão, a marca anunciou 13 novos automóveis – um dos recordes entre os participantes. “Em um momento difícil como esse, todas as montadoras fazem esforços e investem para apresentar novidades”, diz Paulo Octávio Pereira de Almeida, vice-presidente da Reed Exhibitions Alcantara Machado, organizadora do Salão.

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A indústria automotiva é crucial para o crescimento econômico, especialmente em um país com as dimensões do Brasil. Nos últimos anos, poucos setores se desenvolveram tanto. Novas marcas desembarcaram por aqui, as vendas dispararam e, diante do sucesso do mercado nacional, não foram poucas as montadoras que compensaram as perdas internacionais com o lucro gerado no mercado brasileiro. Agora, o cenário virou do avesso. De janeiro a setembro de 2014, as vendas totais caíram 8,9% em relação ao mesmo período do ano anterior. Com a retração, velhos fantasmas ressurgiram, como as férias coletivas anunciadas por alguns fabricantes. E não foi só a produção dos nacionais que caiu. Os brasileiros compraram também menos importados. De janeiro a setembro de 2014, o segmento encolheu 12,5% ante igual período de 2013. “O principal motivo da desaceleração foi a oscilação do câmbio”, diz Marcel Visconde, presidente da Associação Brasileira das Empresas Importadoras e Fabricantes de Veículos Automotores (Abeifa) e da Porsche no Brasil. “Quanto mais flutuações, mais nosso mercado é arranhado.”

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Se até agora os resultados alcançados pelas empresas foram ruins, os últimos dois meses de 2014 estão sendo encarados com certo otimismo. As montadoras esperam que, nesse período, a indústria se recupere um pouco. Novas previsões anunciadas no Salão do Automóvel apontam uma estimativa de queda nas vendas de 7,5%, em vez dos 8,9% projetados anteriormente. Para 2015, as montadoras anseiam por medidas que estimulem as vendas, como a redução das alíquotas do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). “Temos um trabalho grande pela frente e medidas de incentivo não podem demorar muito”, diz André Beer, consultor para a indústria automobilística, que trabalhou durante 48 anos na General Motors, 18 deles como vice-presidente. “Faz 40 anos que falamos sobre a questão tributária, mas ela só piora. E o custo da nossa mão de obra está perdendo competitividade.” Enquanto uma solução para o setor não vem, o jeito é apreciar as supermáquinas expostas em São Paulo.

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FOTOS: DIVULGAÇÃO; CLAUDIO GATTI