O momento é de turbulências, com um forte nevoeiro financeiro, para a Varig. Depois de afastar, em junho, o executivo Percy Rodrigues da presidência da Riosul, sua companhia de vôos regionais, a empresa acaba de mudar o seu conselho de administração, que passa a contar com André Beer, ex-General Motors, e o economista Gesner de Oliveira, ex-presidente do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). Foi poupada a cabeça do presidente, Ozires Silva, mas ele também corre riscos, segundo especialistas do setor. Afinal, dez anos depois do fim do seu monopólio dos vôos internacionais e das passagens grátis para funcionários dos governos federal, estaduais e municipais e de empresas estatais, a Varig perdeu para a TAM cerca de 10% dos passageiros de vôos domésticos nos primeiros cinco meses do ano.

Com seu terceiro presidente nos últimos dez anos, a empresa teve, este ano, resultados pouco animadores. No ano passado, o faturamento foi inferior ao das americanas no mercado de transporte aéreo Brasil-Estados Unidos. Com uma dívida de US$ 1,3 bilhão, a maior empresa brasileira de aviação sentiu o tranco da alta do dólar, moeda usada para o pagamento de diversos itens do setor, inclusive a manutenção de motores e a compra de combustível. Sentiu também a queda da demanda. Mesmo assim, mantém seus planos de renovar a frota. De acordo com uma consultoria que a analisou recentemente, sua recuperação financeira só vai ser possível com uma ampla reformulação. “A Varig ainda tem perfil de estatal e precisa reduzir seu tamanho”, diz um dos consultores que conhece de perto o problema.

A crise da Varig teve início no final da década de 80. O antecessor de Ozires Silva, Fernando Pinto, atual presidente da TAP Air Portugal, foi afastado em maio do ano passado, depois de reduzir a dívida da empresa e colocá-la na Star Alliance, grupo que reúne outras grandes empresas da Europa e dos Estados Unidos. Ozires Silva é o primeiro presidente da companhia que não começou a carreira nos seus escalões inferiores. Chegou ao cargo por ter credibilidade entre empresários e bancos internacionais, mas não é o único a mandar. O planejamento estratégico, por exemplo, é compartilhado com o presidente do Conselho da Fundação Rubem Berta Participações, Yutaka Imagawa. Os atritos que ocorreram entre a Fundação, que controla a Varig, com 87% das ações, e a direção têm sido uma constante na vida da companhia. Silva tem tentado neutralizar as vaidades do segundo escalão e inibir a luta pelo poder. Apesar da crise, nem tudo está perdido – e a salvação poderá passar mais uma vez pelos cofres públicos. É o que acontecerá caso a empresa ganhe na Justiça a indenização de R$ 2 bilhões pelas perdas nos planos Cruzado e Collor. Em processo, semelhante, a Transbrasil teve direito a R$ 1 bilhão.