Dtire o primeiro meteoro quem nunca comprou – ou teve vontade de comprar – uma luneta para espiar os astros. O céu sempre foi foco de aspirações e inspirações para sábios e leigos. E continua sendo. No Brasil, apesar do número reduzido de centros de observação – apenas 14, quase todos de universidades, contra cerca de 1.024 existentes nos Estados Unidos –, o desejo de conhecer as estrelas também seduz. O Clube de Astronomia do Rio, que completou 25 anos de fundação no dia 30, mantém 1.500 sócios pelo Brasil inteiro. São arquitetos, administradores, advogados e todo tipo de profissional a espiar o céu por puro prazer. “Os astrônomos profissionais são apenas 460. É impossível precisar o número de amadores. Em cada cidadezinha do País há pelo menos três aficionados”, afirma Gílson Vieira, astrônomo do Museu de Astronomia do Rio de Janeiro.

Esse pessoal que vive com a cabeça nas estrelas terá a partir deste mês um novo ponto de encontro: o Centro de Estudos do Céu (CEU), moderno complexo astronômico construído em Brotas, pólo de turismo ecológico a 260 quilômetros da capital paulista. O observatório terá telescópios de última geração, planetário, domo de observação, anfiteatro multimídia, túnel do tempo e um pequeno museu de astronáutica, teatro ao ar livre, núcleo multimídia e uma réplica em tamanho real do Stonehenge, o observatório de pedras dos druidas (sacerdotes da Gália e da Bretanha, na era pré-cristã). “O telescópio robotizado pode mapear cerca de 65 mil objetos e com um simples apertar de botão localizamos o astro ou a constelação desejada”, explica Thiago Christofoletti, um dos técnicos do centro e astrólogo amador.

No CEU, os adultos são bem-vindos, mas o foco é a criança, que unirá o útil ao mais que agradável nas férias. “Queremos chegar a 100 mil visitantes no ano que vem, a maioria alunos de escolas públicas e privadas”, planeja Antônio Augusto Rabello, diretor-presidente do CEU. Com parcerias de empresários e governos municipais, o plano não é mera pretensão. Construído em um dos 30 alqueires da fazenda do Acampamento Peraltas – que há 15 anos oferece lazer instrutivo para crianças e adolescentes de todo o Brasil (cerca de 12 mil por ano) –, já nasce com público garantido e será o primeiro observatório com hospedagem. O Peraltas acomoda até 250 pessoas, tem cinco piscinas aquecidas, três toboáguas, cama elástica, touro mecânico, ginásio poliesportivo coberto, discoteca e minifazenda. Sob orientação dos monitores, as crianças arrumam a cama e cuidam da própria higiene. “É um bom treino de autonomia”, realça Marília Rabello, esposa de Augusto e proprietária do Peraltas.

Agora, além de aprender a se virar sozinhas, as crianças vão percorrer o céu através das potentes lentes de modernos telescópios alemães. E garotas como Mayara Cristina de La Vega, nove anos, poderão realizar o sonho de ver seu astro preferido. “Gosto de Júpiter, ele tem uma combinação de cores bonita. Tenho edredon e lençóis com sol, lua e estrela. Na minha casa, todo mundo gosta de astros”, contou ela. Estudande do Colégio Arcádia, de São Paulo, a menina conta que já observou o céu com telescópio num sítio em São Paulo. Claro que ela não se refere à capital. O grande show noturno para os amantes das estrelas é frustrado nos centros urbanos poluídos. Mais uma vantagem para o CEU. “Quando e onde as crianças podem ficar uma noite olhando o céu com segurança? A curiosidade infantil acaba encaixotada junto com a luneta”, ressalta Rabello. Evitar isso e gerar pequenos multiplicadores do interesse pelas estrelas é um dos objetivos do centro astronômico. Sem contar a contribuição para a riqueza dos sonhos infantis.