Durou pouco a encenação na subcomissão do Senado de que se iria fundo na investigação das denúncias contra o ex-secretário-geral da Presidência da República Eduardo Jorge Caldas Pereira. Na manhã da quarta-feira 30, os senadores governistas escancararam o jogo e resolveram não apurar os esquemas de EJ que envolvem maior soma de recursos – informática, seguradoras e fundos de pensão. Com a desculpa de que deveriam concentrar-se apenas na maracutaia do fórum trabalhista de São Paulo, remeteram os requerimentos de convocação do presidente afastado do Serpro, Sérgio de Otero Ribeiro, de Jair Bilachi, ex-presidente do fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil, e de sócios, parceiros e irmãos de Eduardo Jorge para a Comissão de Fiscalização e Controle do Senado. Trata-se de uma comissão nada atuante. Reuniu-se uma única vez este ano e é presidida pelo senador Romero Jucá (PSDB-RR), que recebeu pelo menos 35 telefonemas do empreiteiro da construtora Incal, Fábio Monteiro de Barros. Essa “operação abafa” deu certo porque o PMDB trocou a pose de independência na subcomissão por um acordo com o Palácio do Planalto a fim de pavimentar o caminho do senador Jader Barbalho (PA) rumo à presidência do Senado. Do partido, só o senador Pedro Simon (PMDB-RS) não seguiu o script palaciano e votou a favor de uma investigação de verdade sobre as múltiplas atividades de Eduardo Jorge. Único titular da oposição, o senador Jefferson Peres (PDT-AM) ficou revoltado com a manobra governista: “A subcomissão está moribunda”, sentenciou. “Tudo isso só reforça a necessidade de se criar uma CPI”, endossa a senadora Heloísa Helena (PT-AL).

Enquanto a oposição chia, o governo cuida dos menores detalhes para evitar surpresas desagradáveis na subcomissão. Na terça-feira 29, durante as sete horas de explicações à subcomissão do ministro do Planejamento, Martus Tavares, os senadores governistas receberam instruções a cada momento em que o depoente foi acuado. De público, quem apareceu comandando a operação foi o líder do governo no Senado, José Roberto Arruda (PSDB-DF). Nos bastidores, porém, quem deu as cartas foi a chefe de gabinete de Martus, Selma Pantel. Ela não se limitou a tentar livrar o chefe de embaraços. Na manhã seguinte, quando foram ouvidos parlamentares envolvidos na aprovação pela Comissão de Orçamento de verbas para o fórum paulista, Selma também despachou perguntas a Arruda, que as repassou aos colegas governistas. Mesmo tendo a tropa de choque montado um verdadeiro cordão de isolamento para proteger o ministro, Martus acabou deixando furos. Foi ambíguo, por exemplo, quando questionado sobre um encontro com o juiz foragido Nicolau dos Santos Neto, para tratar de recursos para a obra do TRT paulista.