Os remédios à base de plantas medicinais (fitoterápicos) podem não ser tão inofensivos como parecem. Uma pesquisa da Universidade Estadual de Maringá, no Paraná, mostrou que produtos feitos com folhas de maracujá e de eucalipto, entre outros, estão contaminados com sujeiras e até insetos. “Os consumidores podem ter intoxicações e o medicamento não ser eficaz”, alerta Luís Carlos Marques, farmacêutico e coordenador do estudo. Só para ter uma idéia, 13,5% das amostras estavam infestadas por bichos.

Para chegar ao resultado, Marques realizou duas pesquisas. Em 1999, ele avaliou 60 produtos (alguns produzidos nas farmácias de Maringá e outros de indústrias do Paraná e São Paulo). Mais da metade estava danificada. No segundo estudo, feito este ano com 56 produtos das farmácias de Maringá, a taxa de contaminação atingiu 35%.

A principal irregularidade encontrada foi a presença de parte de plantas sem valor medicinal (conheça outros problemas no quadro). Um dos exemplos aconteceu com um remédio à base de maracujá. Seu princípio ativo está nas folhas, mas o produto continha caule. No trabalho inicial, o problema foi registrado em 30% das amostras reprovadas e, no segundo, em 48%. Os responsáveis pelos remédios foram informados dos resultados. Apenas a indústria Deshydrater, do Paraná, se manifestou. A empresa admitiu falha na compra de sene – seu chá age como laxante –, contaminada por insetos. “Trocamos o fornecedor e melhoramos o controle de qualidade dos remédios”, garante Sandra Prado, farmacêutica da Deshydrater.

Outra que admitiu o erro quando procurada por Istoé foi o ervanário Natuforte. O produto cana-do-brejo, adquirido de distribuidores, tinha grama e insetos. “A culpa é dos fornecedores”, dispara Nádia da Fonseca, farmacêutica responsável pelo ervanário. Para a Agência Nacional de Vigilância Sanitária, o jogo de empurra não faz sentido. Isso porque há normas claras para o comércio dos fitoterápicos. E uma delas diz respeito à responsabilidade das farmácias. “Esses estabelecimentos precisam garantir o que vendem”, afirma Edmundo Machado Netto, assessor do órgão.

Outra regra é a proibição do uso do termo “natural” no rótulo. “Quando lêem essa palavra, os consumidores acham que o produto não causa efeito colateral”, avisa Machado Netto. O certo deve ser “medicamento fitoterápico”. O rótulo do remédio também deve conter informações como nome do farmacêutico responsável e formas de uso do vegetal.

Os resultados do trabalho foram enviados à Vigilância Sanitária de Maringá. “Os fitoterápicos contaminados foram retirados do mercado”, assegura Antônio Carlos Nardi, gerente da Vigilância. O estudioso de plantas medicinais Alexandros Botsaris acredita que os problemas têm origem na má formação dos profissionais. “Isso prejudica a qualidade dos medicamentos”, afirma. Para garantir a compra de remédios eficazes e seguros, é preciso cuidados. “Deve-se comprar o produto inteiro em vez de moído. Dá para ver com mais nitidez se há problema”, ensina Marques.

NA MIRA
Algumas farmácias de manipulação e indústrias nas quais foram encontradas amostras contaminadas
Flora Farma: (Maringá-PR) erva-doce, macela, pata-de-vaca e eucalipto misturados com partes inócuas da planta. Angélica e ginseng falsificados e funcho com peso abaixo do especificado.
O que diz a empresa: o laudo da distribuidora garante que está tudo bem.
Pau d’alho: (Maringá-PR) angélica falsificada, confrei com areia, eucalipto e maracujá com galhos e sene com insetos.
O que diz a empresa: a farmácia foi comprada há seis meses e, depois disso, a Vigilância Sanitária não encontrou problema.
Similia: (Maringá-PR) pequenas partes de guaco e malva branca com pouco valor medicinal.
O que diz a empresa: o pesquisador coletou amostras diferentes destas e não enviou os dados.
As Ervas Curam: (Curitiba-PR) pata-de-vaca com sujeiras e maracujá com partes inócuas do vegetal.
O que diz a empresa: não foi provado que as amostras eram da indústria.
Phoenix Química e Farmacêutica: (Embu-SP) sene com pena de ave e galhos.
O que diz a empresa: o produto foi comprado de um distribuidor e revendido para as farmácias.