Uma dúzia de funcionários da RTA, o departamento de estradas e tráfego da Austrália, foi obrigada a admirar, nas últimas madrugadas, um dos cenários mais deslumbrantes do planeta. Encarapitados no arco central da Harbour Bridge, com 1.149 metros de comprimento e suas 52.800 toneladas de estrutura metálica, ponto de união entre os dois lados da Baía de Sydney, tiveram a seus pés as conchas de concreto da Sydney Opera House, os traços futuristas dos prédios do centro, as luzes do bairro The Rocks, meca de boêmios e turistas, e os caminhos iluminados que marcam o encontro do mar com o coração da cidade. Apesar do ângulo privilegiado, não dedicaram muito tempo ao culto das maravilhas. Estavam ali para um trabalho duro: instalar, no meio da estrutura da ponte, os imensos anéis interligados que, até o dia 1º de outubro, irão representar a integração dos povos pelo esporte. E também o trabalho quase impecável de uma população alegre para fazer dos últimos Jogos do século também os mais bem-sucedidos que já se viram.

“Precisamos ter cuidado com esses brinquedos porque, somados, eles pesam apenas 32 toneladas”, brincou Allan Paxton, um dos responsáveis pela empreitada. “Os sydneysiders (como são chamados os habitantes de Sydney) realmente compraram a briga para impressionar o mundo”, comemora Graham Cassidy, principal diretor do ministério extraordinário criado para realizar as Olimpíadas. “Pelas nossas contas, faríamos os Jogos Olímpicos e Paraolímpicos com 50 mil voluntários. Já temos 67 mil inscritos e a cada semana recebemos 500 novos candidatos”, contabiliza Cassidy, braço direito do ministro Michael Knight.

A cosmopolita e bela Sydney, com seus quatro milhões de habitantes, é a porta de entrada de um dos países mais promissores do mundo. Escorados num PIB de cerca de US$ 430 bilhões – que cresce em média 4% ao ano – e numa renda per capita anual que beira os US$ 20 mil, os australianos, ainda súditos da coroa britânica mas prestes a fazer um século de independência administrativa, não economizam recursos para promover a imagem no exterior. O país tem apenas 19,2 milhões de habitantes, o equivalente a pouco mais de 11% da população brasileira. Oito em cada dez deles vivem no máximo a 50 quilômetros do mar. A costa dessa ilha gigante, de 7,69 milhões de km2, abriga espetáculos como a Grande Barreira de Corais, maior organismo vivo do mundo, com 2.000 quilômetros de extensão, ou cinco vezes a distância entre Rio de Janeiro e São Paulo. Há 12 milhões de veículos registrados , um terço da população possui celular e 41% dos adultos conectam regularmente a internet.

Sydneysider toca pistão tendo ao fundo a Opera House, cartão-postal da cidade

A cosmopolita e bela Sydney, com seus quatro milhões de habitantes, é a porta de entrada de um dos países mais promissores do mundo. Escorados num PIB de cerca de US$ 430 bilhões – que cresce em média 4% ao ano – e numa renda per capita anual que beira os US$ 20 mil, os australianos, ainda súditos da coroa britânica mas prestes a fazer um século de independência administrativa, não economizam recursos para promover a imagem no exterior. O país tem apenas 19,2 milhões de habitantes, o equivalente a pouco mais de 11% da população brasileira. Oito em cada dez deles vivem no máximo a 50 quilômetros do mar. A costa dessa ilha gigante, de 7,69 milhões de km2, abriga espetáculos como a Grande Barreira de Corais, maior organismo vivo do mundo, com 2.000 quilômetros de extensão, ou cinco vezes a distância entre Rio de Janeiro e São Paulo. Há 12 milhões de veículos registrados , um terço da população possui celular e 41% dos adultos conectam regularmente a internet.

Imigrantes – Toda essa riqueza, aliada à política liberal para receber os imigrantes, atrai muita gente em busca de vagas em restaurantes, trabalhos na construção civil e outros ofícios que os australianos se recusam a fazer. Apesar disso, falar por aqui em superpopulação cheira a brincadeira. Mesmo assim, os australianos contabilizam suas taxas de crescimento com precisão. Às 18 horas, quatro minutos e 39 segundos da segunda-feira 28 de agosto, o relógio populacional do Escritório Australiano de Estatística projetava a incorporação do 19.212.019º habitante, estimado nos dados de 31 de dezembro de 1999. O instituto vai além: em 2033, eles serão 25 milhões, um indicador de que a doce vida está longe do fim.

 

Esses dados explicam por que os organizadores de Sydney derrubaram cidades importantes, entre elas Pequim, Roma, Buenos Aires e Rio de Janeiro, e trouxeram pela segunda vez os Jogos para a Austrália – Melbourne foi a sede em 1956. No dia 26 de agosto, última oportunidade para inscrição de voluntários para trabalhar na festa, mais de 300 pessoas se espremiam na sede do Socog, o comitê organizador dos Jogos, no bairro Ultimo, na disputa por uma vaga. “Vi o uniforme de uma amiga que vai participar e fiquei maravilhada. Fiquei uma hora na fila, mas consegui”, festeja a professora Maureen Bourke, 39 anos, uma das 700 pessoas com a missão de encaminhar espectadores aos locais de disputa.

Tocha – Os esportes prediletos dos sydneysiders nesta fase de aquecimento são acompanhar a trajetória da tocha olímpica rumo à cidade e especular sobre as surpresas das cerimônias de abertura, no próximo dia 15, e encerramento, em 1º de outubro. O fogo do Olimpo sofreu dois importantes atentados nos últimos dias. Em Maclean, lugarejo na costa Sul do Estado, um estudante de 17 anos driblou a segurança e, com um extintor de incêndio, abriu fumaça sobre a chama olímpica, carregada naquele dia pelo voluntário John Dare. Dois dias depois, um rapaz tentou roubar o fogo das mãos de uma menina. Nenhum dos dois ousados teve sucesso e a chama se manteve. Mesmo assim, o Socog carrega mais duas chamas acesas para corrigir eventuais “acidentes de percurso”. “Eles dizem que foram protestos, mas isso não passa de brincadeira. Novos ataques ocorrerão”, diz o estudante Gareth Tyndall, um dos 200 voluntários que vão receber a tocha em Hornsby, nos arredores de Sydney. Gareth, 17 anos, é irmão de Mark, na verdade Marcello, brasileiro de 14 anos adotado por seus pais australianos em Montes Claros, Minas Gerais, aos oito meses de idade.

O surfista Lenard acha que as ondas ficaram melhores com a remoção da areia

Outros assuntos quentes são a arena do vôlei de praia, montada na Copacabana dos Sydneysiders, a praia de Bondi, e as cerimônias de abertura e encerramento da festa. Em Bondi, o monstrengo que pode ser o palco da conquista de dois ouros pelo Brasil incomodou os moradores do bairro. “Muita gente continua chateada, mas os protestos diminuíram. Para mim, as ondas ficaram até melhores com a areia que foi levada da praia para a área do mar onde as ondas se formam”, atesta o surfista Marcus Lenard. Os debates sobre a arena de Bondi chegaram a um termo, mas a expectativa sobre as cerimônias continuam marcando as conversas. O Socog proibiu os voluntários de revelar detalhes sobre as duas festas. “Nossa coreografia bonita envolverá saltos, pois somos ginastas. Não me peçam para dizer mais”, desconversou Jaime Lamb, 16 anos, enquanto treinava com mais seis amigas em Epping, subúrbio da cidade.

 

O bate-boca surgiu quando o Socog deixou escapar que faria uma homenagem ao cinema australiano. Não haveria nada de polêmico se as fitas escolhidas ficassem restritas a crocodilos dundees. O burburinho está no ar porque entre os selecionados está o divertidíssimo Priscilla, a rainha do deserto, que mostra a saga de três drag queens de Sydney que resolvem se aventurar pelo deserto australiano. Resultado: Sydney, a segunda capital gay do mundo, atrás de San Francisco, por sua política liberal em relação aos direitos homossexuais, terá drag queens no fechamento das Olimpíadas.

Alguns ameaçaram devolver ingressos de competições e da cerimônia de fechamento, mas a venda de tíquetes é um sucesso. Os 20 mil lugares para a final do basquete, que deverá envolver o dream team americano e algum sparring, e os 18 mil ingressos para as provas de natação, onde os australianos esperam arrancar de seis a oito medalhas de ouro, estão esgotados há um ano. Mesmo para competições menos cotadas, o índice de ingressos comprados é de 70%. “Consegui entradas para as finais do atletismo. Vou ficar a segunda semana por conta dessas provas, do futebol e da cerimônia de encerramento”, disse a universitária Anneke La Grouw. Além das disputas, Anneke reservou economias para atrações do festival paralelo Olympic Arts. Estará na platéia da ópera Tosca, de Puccini, no Sydney Opera House, e do concerto do tenor italiano Andrea Bocelli. O administrador Michael Steffen também pretende ver os jogos de futebol. “Acho que vou encontrar os brasileiros nas finais do futebol e do vôlei de praia”, disse ele.