Sempre que um livro é adaptado para o cinema, a comparação é inevitável. Ainda mais se tratando de uma obra do colombiano Gabriel García Márquez. O veterano diretor mexicano Arturo Ripstein, no entanto, conseguiu fugir da armadilha e criou um universo próprio em Ninguém escreve ao coronel (El coronel no tiene quien le escriba, México, 1997), com estréia no Rio de Janeiro na sexta-feira 8. Fernando Luján é o coronel que passa os últimos 27 anos de vida à espera de sua pensão. No fundo, ele sabe que a espera é inútil, mas se agarra a ela como última esperança de uma vida melhor, quando talvez não terá de usar roupas rasgadas nem passar fome para alimentar a mulher doente (a sempre ótima atriz espanhola Marisa Paredes).

Paralelamente, o casal se debate com a dor da perda de seu filho. Por trás da história de paciência, pobreza e luto, porém, o filme conta uma sutil e melancólica relação de amor entre os dois velhos. Eles mantêm a dignidade e altivez até mesmo quando aceitam ajuda da prostituta Julia (Salma Hayek). Mas, na somatória, Ninguém escreve ao coronel é um pouco cansativo. Alguns minutos a menos não fariam nenhuma falta.