A vida não poderia ser mais maravilhosa para Claire Spencer. Mesmo tendo abortado uma carreira promissora como celista erudita, nada se compararia à felicidade junto ao marido Norman Spencer, professor de renome, bonitão em pleno vigor das aparentes cinco décadas nas costas. Os dois moram numa bela casa à beira de um lago, com toda a tranquilidade e clichês de uma confortável existência de classe média americana. Mas em certo momento, a rotina feliz de Claire começa a ser quebrada. Em seu ninho de isolamento, ela passa a ouvir sussurros, o aparelho de som liga sozinho, um porta-retratos teima em cair no chão e, pavor dos pavores, o banheiro torna-se cenário para uma moça misteriosa fazer aparições meteóricas no reflexo da água da banheira ou no espelho coberto pelo vapor. O que este fantasma solitário quer? Michelle Pfeiffer, no papel da esposa apaixonada, vai derreter a beleza em conversas com um psiquiatra cético e com a amiga cúmplice. Mas Harrison Ford como Spencer não dará a mínima para as loucuras da mulher. Até ele se ver num redemoinho de complicações com cheiro de vingança do Além neste Revelação (What lies beneath, Estados Unidos, 2000), com estréia nacional na quinta-feira 7.

Dirigido por Robert Zemeckis, Revelação parte do sobrenatural para então desenhar uma história de suspense bem delineada na parceria entre Michelle e Ford, que contracenam pela primeira vez. A mistura de elementos no início pode parecer óbvia, mas no desenrolar do enredo mostra-se aterrorizadora. Não há feiúras nem gosmas explícitas como nos atuais filmes de terror. O que assusta é a intrincada corrente de mistérios que agrilhoa e ao mesmo tempo impulsiona a frágil Claire. E justamente o que poderia ser fruto da sua imaginação, como quer o marido, acaba por jogá-la frente à mais bruta realidade. A sequência de sustos, alguns previsíveis, mas bem executados, o clima de tensão e a espiral de surpresas fazem de Revelação um daqueles filmes que se assiste com prazer masoquista.