Feiticeira tirou o véu e desatou a falar. Amante de surfe, Joana Prado está curtindo a sensação de pegar um tubo depois de uma onda gigantesca. Na pele de uma odalisca muda, capaz de enlouquecer a platéia de adolescentes do programa O Superpositivo, da Rede Bandeirantes, resistiu às intempéries que vitimaram sua antecessora, Tiazinha, e permanece no topo. Aos 24 anos, tendo como cartão de visita o corpo definido – 1,70m, 58 quilos, 93 cm de busto e 95 cm de quadril –, habita um oásis nas noites de segunda a sexta-feira, faz reportagens de esportes radicais e, aos domingos, apresenta o programa de ginástica Em forma com a Feiticeira.

 
Com a boca descoberta, ela se sente madura. “Hoje sei separar a Joana da Feiticeira"

Tamanha exposição coloca Joana entre as estrelas mais rentáveis da tevê. Em pouco mais de um ano e meio de carreira, acumula um patrimônio estimado em R$ 3 milhões. A maior parte vem dos negócios relacionados à tevê, de contratos publicitários e, sobretudo, das capas de Playboy. Atualmente a marca Feiticeira está presente em 80 produtos – de lingerie a toalhas e tratamentos anticelulite –, que movimentam R$ 30 milhões por ano. Além de levar uma porcentagem sobre as vendas, Joana faz shows encarnando a personagem. São três por fim de semana, a R$ 15 mil cada um.

Ela se irrita ao ser questionada sobre seu salário, mas se diz feliz com a independência financeira. Depois de trocar seu Corsa 98 por um Cherokee, está deixando o apartamento onde vive com o pai, a madrasta, dois irmãos e o avô para morar sozinha numa cobertura no Morumbi. Dizendo-se cansada da imagem de símbolo sexual, pleiteia outro programa, e agora se refere à Feiticeira na terceira pessoa. “Ela é sensual e misteriosa, e eu sou supersimples”, compara. Mas, no que depender da Band, que a contratou até 2002, ainda vai levar um bom tempo para Joana se separar da Feiticeira. Neste momento, a emissora planeja como será a participação dela na cobertura do Carnaval. Durante toda a entrevista, em seu camarim, Joana só não quis falar sobre o suposto namorado, o lutador de jiu-jítsu Vitor Belford, a quem chama de Tchuco.

ISTOÉ – Agora que você tirou o véu, o encanto da Feiticeira vai acabar?
Joana Prado –
Não sei se vai acabar, mas o assédio deve diminuir. O lado bom é que pelo menos não vou mais escutar gente dizendo que eu devo ter a boca torta, ser banguela ou ter uma cicatriz enorme nos lábios. Durei muito, quase dois anos. Agora quero dar a chance para outros símbolos sexuais.

ISTOÉ – As mulheres lutaram anos para não ser encaradas apenas como objeto sexual e você faz o contrário. Como é isso para você?
Joana –
No começo era mais complicado. Entrava no palco desesperada e no final ficava chorando no camarim. Me assustava o fato de eu estar de biquíni, tendo de dançar para milhões de pessoas. Nunca havia sido preparada para aquilo. Hoje eu já sei separar a Joana da Feiticeira.

ISTOÉ – Qual a diferença entre elas?
Joana –
A Feiticeira é a mulher poderosa, cheia de mistérios, que cobre o rosto com um véu e realiza as fantasias dos homens. Agora estou conseguindo mostrar meu lado Joana, de menina-mulher supersimples que consegue fazer coisas legais. Mesmo antes de tirar o véu, deixava clara a diferença no Show do esporte, no rádio e no Em forma…. Por trás da Feiticeira existe a criadora dela, que também tem personalidade e é formadora de opinião.

ISTOÉ – Já que falou nisso, você não acha que a Feiticeira vulgariza a imagem das mulheres?
Joana –
Quando você lida com uma personagem sexy como ela isso é realmente muito delicado. Não faço questão de ser um símbolo sexual e sempre agi com o máximo de pudor. Procuro passar sensualidade de uma maneira diferente do que ficar só virando de costas para a câmera e mostrando o poposão. Mexo o véu, lanço um olhar, movimento as mãos.

ISTOÉ – Você não é a garota humilde que sempre sonhou fazer televisão. Por que se envolveu com isso?
Joana –
Pois é, nasci no Brooklin (bairro de classe média alta de São Paulo), morria de vontade de ser paquita, mas nunca pensei que iria entrar para a tevê. Na faculdade, várias amigas me falavam para tentar a carreira de modelo. Até que um dia pintou um teste para o H. Tínhamos de ficar dançando na frente das câmeras, mas enquanto as outras meninas sabiam as coreografias, e eu ia para o lado contrário. Foi meio bizarro, mas acabei passando. Acho que por ser natural, um pouco tímida.

ISTOÉ – Mas o que você queria mesmo era continuar estudando Comércio Exterior…
Joana –
Estava meio indecisa. Na época do vestibular, queria prestar Turismo, Educação Física e Administração de Empresas. Como era dezembro, e eu já estava querendo ir viajar (há cinco anos, ela passa as férias no litoral de Santa Catarina), prestei Unip. Entrei, pensei: “Tá bom, vou fazer Comércio Exterior” e me mandei para o Sul. Queria terminar o curso, fazer uma pós-graduação fora e depois prestar outra coisa. Mas aí veio o programa.

ISTOÉ – Certa vez você disse que o melhor da fama é poder frequentar a Ilha de Caras. Ainda pensa assim?
Joana –
Continuo com a mesma opinião. Eu ganho muitas coisas, recebo vários convites. Já recebi kits de cosméticos, que é algo que eu adoro, e muitas roupas. Fui à Ilha de Caras uma vez e achei o máximo.

ISTOÉ – Quem são seus ídolos?
Joana –
Nunca fui de ter ídolos. Tirando a Xuxa, que para mim até hoje é tudo, não tinha ninguém que eu sonhasse conhecer.

ISTOÉ – Tem medo de ser chamada de loura burra?
Joana –
Enfrento uma cobrança muito grande porque exponho meu corpo. Entro muda e saio calada do estúdio, mas acho que tem de ser assim mesmo. Faço um personagem que passa mistério, fetiche. Se entrasse ali de biquíni e véu e dissesse alguma coisa, quebraria o encanto. Mas eu não tenho medo, não. Fiz colégio, faculdade e não tenho de provar nada para ninguém.

ISTOÉ – Na tevê, uma coisa que você procura dizer é para o jovem não usar drogas. Nunca fumou maconha?
Joana –
Fumo cigarro de cravo de vez em quando. Experimentei maconha uma vez e nunca mais. Já tive amigos muito próximos que se acabaram por causa do vício e acho que não vale a pena. No fim do Show do esporte, peço para o entrevistado dar uma dica para o público e o conselho é o mesmo: não use drogas.

ISTOÉ – Mesmo no esporte há algumas drogas, como os anabolizantes, utilizadas para melhorar o desempenho. Você já tomou alguma?
Joana –
Quando comecei a treinar, tomava creatina, mas isso não é droga. Ganhei massa muscular, minha perna inchou um pouco, mas meu pique não melhorou. Depois mudei de academia e o instrutor mandou parar, porque creatina provoca retenção de líquido.

ISTOÉ – O que você acha de ser uma mulher cibernética?
Joana –
Não me considero uma mulher cibernética. Sou definida, mas tenho meu lado feminino, sou meiguinha. Coloquei silicone no seio só uma vez. Meu corpo é assim porque malho mesmo. Se estou me sentindo gorda, vou fazer musculação, correr na praia, surfar. Optei pelo método artificial nos seios porque não tinha jeito.

ISTOÉ – Marisa Orth já disse que os homens a acham bonita, mas são as mulheres que elogiam as pernas da Magda, do Sai de baixo. E com você, o que acontece?
Joana –
Apesar de muitas não assumirem, a maior parte das mulheres se identifica comigo, sim. Se chego a uma boate, os caras ficam de olho, mas têm receio de se aproximar. Aí eu vou ao toalete, e entram dezenas de mulheres para perguntar que tipo de ginástica eu faço, a cor da tinta do meu cabelo, a marca do meu batom. Dizem: “Na televisão você parece gigantesca.”

ISTOÉ – Você deve achar seu rosto bonito. Não se incomoda em usar sempre véu?
Joana –
Já me acostumei. Só incomoda quando estou fazendo uma matéria de pára-quedismo ou saltando de bungee-jump. Tenho de ficar segurando, para ele não voar. O fato de tampar o rosto é normal, porque ali eu estou interpretando o personagem. A Joana realmente fica escondida atrás do véu.

ISTOÉ – Você teve aulas de dança do ventre?
Joana –
Tive, mas logo vi que não tinha nada a ver comigo. Aprendi expressão corporal e cheguei a uma dança do ventre mais popular. É a dança da Feiticeira mesmo. É ter um véu grande no rosto, um biquíni, uma sandália trançada na perna, passar muito glitter no corpo e ficar levantando as mãos, mandando beijinhos.

ISTOÉ – Como você lida com o dinheiro?
Joana –
Sou bem mão-fechada. Entrar numa loja e gastar R$ 40 mil num vestido não é para mim. Prefiro usar esse dinheiro para comprar um monte de coisinhas do que numa roupa que vou usar apenas uma noite. As únicas coisas de mais valor que já comprei foram meu carro e uma cobertura, de um tamanho suficiente para eu morar sozinha.

ISTOÉ – Em que você investe seu dinheiro?
Joana –
Papi que sabe (risos).

ISTOÉ – Você não sabe?
Joana –
(Irritada) Claro que sei. Em ações, imóveis, o básico.

ISTOÉ – Agora você vai morar na cobertura que comprou no Morumbi. Cansou de viver com o pai?
Joana –
Que nada, vou sentir muita falta dele! Quando comecei na carreira, até disse que só sairia de casa para casar. Só que hoje eu sinto que preciso do meu espaço.

ISTOÉ – Você está namorando?
Joana –
Tenho uma pessoa, com quem estou saindo há algum tempo.

ISTOÉ – É ele ou ela?
Joana –
É ele, claro.

ISTOÉ – É que com você dizendo que está há um ano e meio sem namorado, começam a surgir rumores de que seria lésbica.
Joana –
Que absurdo! Namoro um homem, que é conhecido, mas não da mídia. Não tenho nada contra o lesbianismo, até recebo muitas cartas de mulheres, mas minha praia é outra. Se um cara te diz uma besteira, você sabe o que responder. Mas uma mulher…

ISTOÉ – O fato de ser a Feiticeira e viver escutando cantadas não a deixou mais atirada?
Joana –
Não tanto quanto a Feiticeira. Depois que comecei a fazer o personagem, vi que, apesar de tímida, posso ser sensual quando seguro uma taça de vinho, mexo no cabelo. Mas guardo isso para o meu namorado.

ISTOÉ – E o seu desempenho sexual mudou? Algumas garotas de sua idade reclamam que ainda não encontraram o prazer na cama.
Joana –
Não, antes da Feiticeira eu já tinha encontrado o prazer há muito tempo (risos). Perdi a virgindade aos 18 anos, com um cara de quem gostava muito. Da primeira vez, achei o prazer.

ISTOÉ – Você se sente poderosa?
Joana –
Me sinto mais cobrada do que poderosa. Tenho de ser perfeita. Os homens me colocam num pedestal, as mulheres desdenham: “Ah, ela não é tudo isso!” Não posso ter celulite ou bumbum flácido, por exemplo. A Joana é tímida, simples, sincera, teimosa. Só me sinto poderosa quando entro no estúdio e encaro a galera. A Feiticeira, sim, é poderosa.

ISTOÉ – E quando você se sente frágil?
Joana –
Quando estou com minha prancha no mar e vem uma onda bem grande.