Não bastasse o ecstasy, o LSD e as eternas maconha e cocaína, outras três novas drogas entraram no cardápio dos jovens. A mais cobiçada é o Poppers, antigo vasodilatador “ressuscitado” dos anos 70. A outra é o GHB, uma espécie de água salgada que contém um ácido (Gama-hidroxi-butírico), conhecido como ecstasy líquido. A terceira e talvez a mais assustadora, é a Ketamina, também conhecida por Special K. Por incrível que pareça, trata-se de um anestésico veterinário para animais, como cavalo e cachorro. A substância existe há mais de 50 anos como anestésico, mas só agora começa a virar mania entre os jovens. Ninguém sabe exatamente como a moçada descobriu que, ao inalar o pó que sobra da evaporação do remédio, chega-se a um “barato” semelhante a uma bebedeira. Só que sem ressaca. No entanto, a viagem pode não ter volta. O psiquiatra paulista Durval Nogueira Filho alerta: “Se ela pode derrubar um leão, imagina o que não faz com o ser humano. Essa sensação de dormência pode ser o início de um processo no qual até as vias respiratórias ficam anestesiadas e provocam a morte”, diz.

Em princípio, qualquer um pode ter acesso à Ketamina. Lojas de agropecuária que deveriam vender a substância somente a veterinários ou portadores de receita, na prática, não o fazem. Vendem para qualquer pessoa ao preço médio de R$ 20. E assim o consumo cresce cada vez mais. O dentista paulista Lucas*, 34 anos, experimentou o Special K, pela primeira vez, no último réveillon, com uma turma de amigos. Desde então, ele já usou a droga, por conta própria, mais de 40 vezes. “Sei quais são as lojas que vendem sem receita e sempre volto nelas quando quero comprar mais”, diz Lucas. A onda da Ketamina veio da Inglaterra. Seu auge foi há dois anos, época em que o anestésico era uma das drogas mais usadas nas squart parties – do inglês, “festas sujas” –, espécie de raves ilegais onde o principal objetivo da moçada é se drogar. “Era deprimente ver todo mundo largado no chão, sem o menor controle dos corpos”, conta a promoter paulista Betty, 27 anos, que vive em Londres. Apesar de avessa às squart parties ela também costuma usar o Special K.

Alex Soletto
Poppers, GHB e Ketamina: frascos decoram o chão das pistas de dança

Lança-perfume – O cenário preferido das drogas da moda parece ser sempre a vida noturna. Em raves e festas fechadas não são raros vidrinhos de Poppers espalhados pelo chão. A droga foi criada inicialmente como um remédio para angina (dor no peito), mas o benefício não compensava por causa dos seus efeitos colaterais, como queda de pressão e desmaio. No entanto, sua fabricação continuou, de maneira clandestina. A droga é inalável e, para o estudante universitário Matheus, 21 anos, provoca efeitos semelhantes ao do lança-perfume. “A sensação é de uma paulada na cabeça. Os sons ficam diferentes e o corpo mais leve. É ótimo para dançar”, descreve Matheus. Mas essa não é a única razão pela qual a droga foi resgatada dos anos 70. Como se trata de um vasodilatador, a substância facilita a virilidade, a relação sexual e a penetração anal. Por isso, o Poppers, que custa cerca de R$ 30 cada vidrinho, acaba sendo um aditivo para casais homossexuais.

A conotação sexual aparece também no ecstasy líquido (GHB). A droga, que chega ao Brasil por R$ 40, é a segunda mais usada em casos de estupro, na Inglaterra, perdendo apenas para o tranquilizante Rohypinol. O psiquiatra paulista Marcelo Fernandes explica: “Como se trata de uma substância incolor e inodora, pode ser misturada à bebida da vítima sem que ela perceba”, diz Fernandes. “O efeito é como o de um sonífero, pois o GHB é do grupo das drogas depressoras do sistema nervoso central e pode provocar perda de consciência ou mesmo um coma profundo”, completa o especialista.

O prognóstico é assustador, mas não parece abalar os adeptos da droga, que insistem em chamá-la de ecstasy. Eles descrevem sensações de euforia e bem-estar que pouco se assemelham ao quadro clínico de uma droga pesada. “Todas as vezes que tomei GHB, fiquei nas nuvens. Ao mesmo tempo me senti bastante relaxado, tive pique suficiente para dançar por quase oito horas seguidas”, defende Matheus. “Essas drogas costumam vir de fora do País pelas mãos de traficantes”, completa Matheus. A internet também facilita esse tráfico. Há pelo menos dez sites que entregam Poppers em casa. Basta o número do cartão de crédito e a eterna vista grossa da polícia brasileira.

* Nomes fictícios.