Passar o dia fazendo bonito nas pistas de esqui, se ensopando numa guerrinha de neve ou apenas escorregando numa prancha em pequenas elevações, não importa. As estações de esqui são garantia de boa diversão no inverno. É só não se preocupar em manter a pose. O salto alto deve ficar na cidade. Os sapatos lustrados darão lugar a botas de quase dois quilos. Aos modelitos bem-ajustados vão se sobrepor grossos macacões e calças impermeáveis, touca, luva e o que mais for necessário para enfrentar as temperaturas abaixo de zero. Ao final, você terá a impressão de ser um astronauta da Nasa e ainda terá que adicionar um apetrecho ainda mais estranho a pés acostumados ao asfalto: o esqui ou a prancha de snowboard, uma espécie de skate de neve. Esquiar requer sacrifício, persistência e humor – rir dos próprios tombos é fundamental e não se importar com alguns hematomas também. Mas vale a pena. Sentir o vento adormecendo o nariz montanha abaixo é uma delícia.

Quando essa montanha – na verdade, uma série incontável delas – é nada mais nada menos que a Cordilheira dos Andes, fica ainda mais interessante. O grande paredão desenha a geografia do Chile de norte a sul. E, de quebra, dá charme à Argentina.

Do lado argentino da cordilheira está a estação de esqui de Las Lenãs, que surpreende pelo calor. A sensação térmica de junho a agosto é de 20 graus. Quem começa o dia todo encapuzado é obrigado a fazer strip-tease na medida em que o esforço aumenta. Para cada hora de esqui, uma pessoa de 74 quilos gasta, em média, 528 calorias. Outra vantagem é o vôo direto de São Paulo a Las Leñas inaugurado este mês. Agora fica mais fácil aproveitar a boa neve que os 3.340 m de altitude de Las Leñas garantem. São 24 pistas com 65 quilômetros de pura adrenalina. E, se o dia não for suficiente para saciar a fome de neve, o aficionado tem ainda o esqui noturno, outra novidade da charmosa estação.

Em Las Leñas, tudo foi concebido e planejado para aproveitar cada detalhe das montanhas milenares. Quando falta neve, 16 canhões se encarregam de produzir quatro quilômetros de pista a cada 24 horas. Tudo isso tem um preço um pouco salgado. Uma semana no Hotel Piscis, com passagem aérea e passeios, não sai por menos de US$ 3 mil. No hotel, a água mineral chega a custar US$ 6. A dica é passar no mercadinho da estação e comprar por US$ 0,90. Outro conselho é alugar um flat para quatro pessoas nos arredores por R$ 1,5 mil a semana. Quem nunca esquiou não precisa se preocupar. Professores e monitores especializados ficam à disposição para ensinar as manhas do esporte, tanto para os adultos quanto para as crianças, que dão um baile.

Chile – O mesmo cuidado têm os chilenos. Ao longo da Cordilheira dos Andes há várias estações de esqui. A 90 quilômetros da capital Santiago, está Valle Nevado, um dos lugares mais elegantes desse país para esquiar. Depois de subir uma estrada íngreme, chega-se à estação encravada a três mil metros de altura. Nesta temporada, Valle Nevado ganhou novas pistas, totalizando 37 quilômetros numa área de 98 mil hectares. Além disso, inaugurou um novo teleférico, o Andes Express, capaz de levar quatro esquiadores ao mesmo tempo montanha acima e chegar ao El Mirador, que fica a 3.500 metros de altura, em apenas cinco minutos.

O centro da estação é composto por três hotéis. O mais caro, de cinco estrelas, leva o nome do lugar e possui suítes com diárias de US$ 537 por pessoa. Outros dois mais baratos, o Puerta Del Sol e o Três Puntas, são ideais para jovens esportistas. Badalação e gente bonita não faltam. Entre os dias 22 e 29 de julho acontece o Campeonato Brasileiro de Snowboard. Valle Nevado deverá lotar. Quem perder este evento, ainda poderá assistir à Copa do Mundo de Snowboard, de 6 a 9 de setembro. Pacotes de sete dias custam a partir de US$ 1.700, com transporte terrestre e aéreo.

Mais ao norte, a 150 quilômetros de Santiago, encontramos Portillo, o mais antigo centro de esqui da América Latina. Com pistas a 2.700 metros de altitude, suas montanhas de até 4.500 metros circundam o Lago Inca. Intimista e familiar, a estação recebe no máximo 450 pessoas por semana. Construída há 52 anos, Portillo é ideal para esquiadores de nível médio e principiantes, mas já hospedou grandes nomes, como o famoso esquiador Jean-Claude Killy, que venceu suas rampas íngremes na década de 60. Não são poucos os hóspedes habituais com quartos reservados ano após ano. Como a estação fica isolada, todo mundo acaba se encontrando aqui ou ali, o que dá um clima de clube ao lugar. Além do tradicional Hotel Portillo, com pacotes de sete dias a partir de US$ 1.400 (terrestre e aéreo), há também o Octogon Lodge (de US$ 1.150 a US$ 1.700), com quatro beliches em cada suíte, e o jovial Inca Lodge, com quatro beliches e banheiro comunitário.

Bem mais ao sul, a duas horas de vôo da capital chilena, está Termas de Chillán, que é ao mesmo tempo estação termal e de esqui. São 40 quilômetros de pistas espalhadas por 120 hectares de terra. É neve que não acaba mais. Depois de um dia de atividade intensa, livrar-se de botas, roupas e esquis traz uma sensação de alívio. Nada parece melhor nesta hora do que se refazer numa água tépida e, por que não?, medicinal. E essa é a maior vantagem da estação: poder se atirar na piscina de água vulcânica e relaxar olhando o sol tingir de dourado os picos nevados. A água sai da terra a 94 graus centígrados e chega às piscinas a 40. Depois, enquanto o enxofre que turva a água atua nos músculos cansados, pode-se apreciar as estrelas e refazer também o espírito. O único cuidado é usar protetores de ouvido. Os mais ousados não resistem ao banho finlandês, ou seja, saem da piscina quente e se jogam na neve ao lado. Os adeptos dizem que não existe nada mais revigorante.

Cápsula – Quem não quiser ficar de molho, pode usufruir de um spa desintoxicante com vários tipos de tratamentos, com destaque para a fangoterapia – recurso em que, lambuzados de lama das termas, os turistas são encapsulados numa cama com tampa. A primeira sensação é de frio intenso, depois a tremedeira se atenua com um bafo morno e, por fim, fortes jatos de água quente limpam o corpo. A pele fica uma seda.

Da porta do Gran Hotel Termas de Chillán pode-se ver as fumarolas – pontos de onde sai a água vulcânica a 95. É também daí que vem a lama medicinal. Chillán fica no meio de um bosque de carvalhos. E é por entre suas árvores centenárias que são feitos os divertidos passeios de trenós, puxados por cachorros malamutes, originários do Alasca. Outra emoção é subir e descer os montes de snowmobil (moto de neve).

Além do Gran Hotel Termas de Chillán, há duas opções mais econômicas: o Hotel Pirigallo (pacotes de sete dias a partir de US$ 1.300, terrestre e aéreo) e o condomínio de flats que acomodam até seis pessoas (diárias entre US$ 1.040 e US$ 1.300). Quem fica no resort Termas de Chillán não resiste às delícias do spa. Por isso, além do pacote (que varia de US$ 1.600 a 2.100), devem-se reservar mais US$ 500 para as sessões relaxantes e, é claro, uns extras para o bar. Afinal, não há como ignorar os bons vinhos locais e o pisco, famosa aguardente da terra dos comportados chilenos. Dizem as boas línguas que eles “são brasileiros enrustidos” e que, depois de alguns goles, mostram seu lado alegre e fanfarrão.