Na segunda-feira 2, o prefeito de Cubatão, Clermont Silveira Castor (PL), vestiu um terno escuro e saiu de casa por volta das 20 horas. Estava com o motorista Joel Bispo da Luz em um Gol branco da Prefeitura e iria acompanhar o velório de um amigo. Na avenida 9 de Abril – espécie de marginal urbana da via Anchieta –, o motorista reduziu a velocidade para ultrapassar uma lombada. Um Corsa sedam preto, com os vidros escuros, emparelhou pela direita e de seu interior partiram diversos tiros em direção ao prefeito. Clermont foi atingido no pescoço, na axila e no braço direito. Até a quinta-feira 5, o prefeito permanecia na UTI do Hospital 9 de Julho, em São Paulo, mas não corria risco de morte. “Foi tudo muito rápido. Não tenho como reconhecer os bandidos e não anotei a placa do Corsa. A avenida estava escura por causa do apagão”, diz Joel, a única testemunha do caso. “Descartamos a hipótese de crime contra o patrimônio, mas não temos nada de concreto”, lamenta o delegado Ed Willian Tedros.

Localizado a cerca de 60 quilômetros de São Paulo, Cubatão tem 107 mil habitantes, é um dos mais importantes pólos industriais do País, e a política local nem sempre foi pacífica. Em maio de 1964, o prefeito Abel Tenório foi morto a tiros. Ele era o principal suspeito de assassinar o vereador Aristides Lopes dos Santos, seis meses antes. No ano passado, a eleição de Clermont foi tumultuada. O vice-prefeito, Alberto de Souza (Prona), registrou oito Boletins de Ocorrência por ameaça de morte e uma bomba explodiu na porta da casa do atual secretário de Saúde, Adriano Goulart. A posse de Clermont não reduziu a tensão. A cidade tem um orçamento de R$ 192 milhões e dívidas de R$ 390 milhões. Por causa disso, o prefeito iniciou uma devassa nos atos de seus antecessores, suspendeu pagamentos e cancelou contratos. “Ele criou diversos inimigos”, afirma o vice-prefeito. Por essas razões, o delegado Tedros não descarta a hipótese de o atentado contra o prefeito ter motivação política ou mesmo tratar-se de uma vingança. A principal linha de investigação, no entanto, considera que Clermont tenha sido baleado por estar no lugar errado, na hora errada e, principalmente, no carro errado.

O carro oficial do prefeito é um Omega, que está com problemas mecânicos. Por isso, na segunda-feira, Clermont usava um Gol. O problema é que normalmente esse Gol é usado por Pedro Pereira dos Santos, um assessor responsável por derrubar os barracos daqueles que invadem áreas de risco ou de preservação ambiental em Cubatão. Há duas semanas, Santos vem recebendo ameaças de morte por parte de pessoas que tiveram seus barracos destruídos por ele. Como o prefeito, seu assessor também tem os cabelos grisalhos e bigodes. “O local do crime estava escuro e tudo aconteceu muito rápido. É bem provável que o alvo dos bandidos fosse o assessor, e não o prefeito”, confirma o delegado Tedros. Até o final da semana passada, as ações da polícia estavam centradas nos loteamentos clandestinos da cidade.