Com o subtítulo Os clássicos, a coleção Contos russos, Contos ingleses e Contos norte-americanos (Ediouro, R$ 120 a caixa com três volumes, ou R$ 52,90 cada um) reúne nos três calhamaços de mais de 500 páginas uma das mais preciosas coletâneas do gênero. Tanto pelo conteúdo, recheado da melhor literatura que o estilo já produziu, como pelas assinaturas brasileiras que acompanham a obra. Os livros de contos ingleses e russos têm coordenação de Rubem Braga; os norte-americanos, de Vinicius de Moraes. Os prefácios, supervisão e apresentação são de Graciliano Ramos, Orígenes Lessa e Aníbal Machado. E, para que a arte de contar o conto continuasse em boas mãos, a tradução foi entregue a Sérgio Buarque de Holanda, Rachel de Queiroz,
Paschoal Carlos Magno, Afonso Arinos de Melo Franco, Manuel Bandeira, João Cabral de Melo Neto, Décio de Almeida Prado e Monteiro Lobato, numa lista interminável de grandes talentos.

Ler as histórias condensadas por nacionalidades é como ter aulas sobre as tradições russas e sua forte vocação para os dilemas existenciais, ou sobre o nonsense inglês, que só é possível sob o céu londrino ou, ainda, aprender por
que, afinal, tudo o que é americano vira uma indústria. Entre os russos – escritos
por Fiodor Dostoievski (1821-1881), Lev Tolstoi (1828-1910), Anton Tchekov (1860-1904), Máximo Gorki (1868-1936), para citar os mais famosos – O capote, de
Nikolai Gogol (1809-1852), é um aprendizado especial. “Todos nós descendemos de O capote”, disse Dostoievski. Na triste história de Akaki Akakiévitch em busca
de sua indumentária, o autor sintetiza a gravidade das questões ordinárias que cercam o homem.

Mas não cabe destacar uma ou outra história em clássicos desta estatura. Basta dizer que o volume inglês oferece Oscar Wilde (1854-1900), Bernard Shaw (1856-1950), Virginia Woolf (1882-1941), Joseph Conrad (1857-1924) e James Joyce (1882-1941), em meio a tantos outros. E que as histórias curtas da edição americana são contadas por Edgar Allan Poe (1809-1849), Mark Twain (1835-1910), William Faulkner (1897-1962) e John dos Passos (1896-1970), por exemplo. Apenas a lamentar o reduzido corpo das letras. Talvez a solução fosse dividir os volumes para adotar letras maiores, tendência editorial hoje em dia. Por outro lado, merece aplausos a iniciativa de reeditar a obra, cuja última concepção data de 1970. Como disse Rubem Braga, “percorrer estas linhas matará nossa fome de beleza”.