No momento em que esta coluna foi escrita, era impossível prever se a vitória seria de Dilma Rousseff ou de Aécio Neves. Mas qualquer que seja o resultado, o trabalho agora é de diálogo e de reconstrução de pontes. Para um País de centro, e de natureza conciliadora, como é o Brasil, foi espantosa a radicalização que se viu nessa disputa. Agressões nas ruas, insultos no meio artístico, ofensas nas redes sociais e até divisões familiares. Para quê? Para nada, como diria o poeta pernambucano Ascenso Ferreira.

Afinal, quais são as diferenças centrais entre PT e PSDB? Deixando de lado as radicalizações do marketing político, os últimos vinte anos, das eras FHC e Lula-Dilma, serão lidos como um único período histórico, que foi o da consolidação da social-democracia no Brasil, ora com o pêndulo mais ao mercado, ora mais ao Estado. Um período marcado por estabilização monetária, inclusão social e ampliação de direitos civis. Uma construção coletiva, que não tem donos. E os erros, de parte a parte, decorrem de um trabalho ainda inacabado. A sucessão de escândalos, tanto tucanos quanto petistas, é fruto de uma democracia que ainda não se libertou do poder do dinheiro e não encontrou mecanismos adequados de financiamento.

Por isso mesmo, o dia seguinte a eleição deveria ser marcado pelo diálogo e pela construção de um pacto em torno da reforma política. Esta sim, a tarefa inicial de qualquer dos vencedores. Até porque, na economia, ao contrário do que se apregoou nos últimos anos, os ajustes são bem mais simples do que parecem. O Brasil opera hoje em pleno emprego, fechará o ano com a inflação na meta, ainda que no teto, e possui um caminhão de reservas internacionais. Ou seja: há uma herança benigna. E se há necessidade de uma política fiscal mais transparente e de ajustes em alguns setores da economia que enfrentam grave crise, como é o caso do etanol, os dois lados parecem ter a compreensão do trabalho a ser feito. E no social já há consenso. Para um País marcado por tantas desigualdades, seria uma heresia retroceder nas políticas de inclusão social.

O grande risco que nos cerca é o de os derrotados – quaisquer que sejam eles – não aceitarem o resultados das urnas e lutarem por um “terceiro turno”. Especialmente se a diference de votos for estreita, inferior a 1% ou 2% do total. A radicalização, num País pacífico, mas momentaneamente conflagrado, poderá causar danos irreversíveis a uma Nação que é democrática e nada tem de “bolivariano”. Que, no dia seguinte, tanto vencedores quanto derrotados sejam maduros diante da responsabilidade histórica com o Brasil e os brasileiros.