Num tempo em que dinossauros ou brinquedos falantes computadorizados nem sequer faziam parte do imaginário de Hollywood, o desenho Fantasia, criado em 1940 por Walt Disney, revolucionou o cinema com atrativos tecnológicos. Quem, pelo menos na faixa dos 30 anos, não se lembra do camundongo Mickey, desesperado com as vassouras enlouquecidas que, erradamente enfeitiçadas, causaram uma enchente carregando milhares de baldes d’água na fantástica sequência O aprendiz de feiticeiro? Pois ela agora está de volta, com sua trilha restaurada digitalmente, como parte de Fantasia 2000 (Fantasia 2000, Estados Unidos, 1999) – estréia nacional na sexta-feira 16 –, um delírio visual realizado praticamente dentro da mesma concepção do longa-metragem de animação original. O aprendiz é o único segmento antigo entre os sete novos, criados ao longo de nove anos.

Excetuando-se as duas sequências iniciais, de estilo modernoso, mais para new age do que para fantasia lisérgica, Fantasia 2000 é um ótimo programa para adultos saudosos e seus filhos. A exemplo do original foram selecionadas peças eruditas “descritivas”, ou seja, que de alguma maneira induzissem as pessoas à sensação de que uma história está sendo contada. Assim, Rhapsody in blue, de George Gershwin, ganhou contornos de humor e poesia na saga metropolitana de um nova-iorquino que durante o dia é operário da construção e à noite toca num clube de jazz; Pompa e circunstância, de Edward Elgar, transformou o Pato Donald em braço-direito de Noé; e O pássaro de fogo, de Igor Stravinsky, proporcionou um grand finale que traz mensagem de esperança em relação à morte e ao renascimento. Bem no estilo Disney.