Main Street, uma rua da região nova-iorquina de Queens, nunca foi barra pesada. Principalmente depois da chamada “política de tolerância zero”, do prefeito Rudy Giuliani – uma estratégia de repressão até mesmo às ofensas triviais, como encaminhamento do combate a crimes maiores. Mas os tempos estão mudando para pior na Big Apple. No dia 25 de maio, logo depois das nove da noite, as portas da lanchonete Wendy’s, na Main Street, já estavam fechadas, enquanto os empregados faziam a faxina final. Dois homens armados invadiram o local – um deles circulando com a desenvoltura dos que conhecem a casa. Levaram os seis funcionários, sob a mira de armas de grosso calibre, para a geladeira-armazém no subsolo. Amarraram a todos, colocaram fitas adesivas em cada boca e sacos de lixo nas cabeças. Em seguida, veio a execução sumária. As vítimas – na maioria, jovens pobres – receberam uma ou duas balas na cabeça. Cinco morreram na hora e um sobreviveu milagrosamente. O produto do roubo da lanchonete foi de US$ 2.400.

As mortes elevaram para 269 o número de homicídios neste ano. Um aumento de 21 pessoas abatidas, em comparação com o mesmo período no ano passado. A Nova York do ano 2000 começa a se parecer mais com a Chicago dos anos 20. Os assassinos, Graig Godineaux, 30 anos, e John Taylor, 36, foram presos em menos de 48 horas. Não tanto pelo bom trabalho da polícia quanto pela burrice dos criminosos. John Taylor trabalhou naquela Wendy’s e foi reconhecido pela vítima que não morreu, além de ter sido filmado pela câmera da lanchonete.

Foto: AP
John Taylor foi reconhecido por uma vítima

A cidade, diga-se, ainda vive sob os efeitos do sucesso do prefeito Giuliani em reduzir as estatísticas de criminalidade. No fim de 1998, a média de homicídios caíra para os menores níveis desde 1964. E neste ano continua 62% menor do que em 1993, quando outro prefeito era o responsável pela segurança. E, talvez por causa destes resultados, exista agora a percepção de que uma onda de crimes volta a engolfar Nova York. “Somos vítimas de nosso próprio sucesso”, diz a subcomissária Yolanda Jimenez. “Quando se vive muito tempo num período de relativa paz, qualquer surto de criminalidade ganha aspectos superlativos”, diz. Mas os episódios de violência não podem ser minimizados como se fossem frutos da paranóia. “A continuar neste ritmo, poderemos alcançar a média de 1.500 homicídios neste ano, empatando com os níveis dos piores anos da cidade”, diz Allan Greer, da Citizen’s Crime Commission.

“O fato é que a qualidade de vida na cidade realmente piorou”, diz Ibrahim Al-Akar, motorista de táxi particular – os chamados gipsy-cabs, que não têm taxímetro e funcionam pegando corridas através de chamadas telefônicas. São estes os profissionais que mais têm sofrido com o aumento dos crimes. Há quatro meses uma explosão de assaltos fez uma dúzia de vítimas entre estes profissionais. Nem todos os casos de roubo a mão armada são registrados na polícia e as estatísticas acabam não espelhando a realidade. “Muitos colegas são imigrantes ilegais, ou gente que tem muito medo da polícia por causa de experiências ruins no passado”, diz Ibrahim. A violência policial também alarma a população e foi responsável por várias das mortes que não constam das estatísticas. Um caso exemplar, por ser mais recente, é o de Patrick Dorismond, 26 anos, morto no dia 16 de abril por policiais à paisana. A vítima esperava um táxi, no centro de Manhattan, quando foi abordada pelos agentes propondo uma transação com drogas. Irritado, Patrick agrediu os interlocutores e acabou baleado. Sua morte não está entre os 269 homicídios até agora registrados.