Diplomacia, em todo o mundo, é sinônimo de habilidade de negociação, boas maneiras, discrição e, principalmente, traquejo para evitar constrangimentos entre culturas diferentes. Isso é a teoria. A prática mostra que as gafes ocorrem com muito mais frequência do que os diplomatas gostariam. A última aconteceu na quinta-feira 1º, durante jantar oferecido pelo premiê da Alemanha, Gerhard Schroeder, ao presidente americano Bill Clinton. No final dos acepipes, em um restaurante da parte oriental de Berlim, Schroeder presenteou Clinton, conhecido apreciador de “habanos”, com uma caixa de charutos cubanos do próprio Fidel. O problema é que os EUA mantêm há quase 40 anos um rigoroso embargo comercial contra a ilha. Outro detalhe é que Clinton, além de fumar, costuma fazer uso pouco convencional de charutos, como divulgou a ex-estagiária Monica Lewinsky. O caso com a moça quase custou o cargo a Clinton.

O cuidado dos diplomatas não impediu que outro presidente americano, Ronald Reagan, cometesse uma gafe histórica ao visitar o Brasil, em 1982. Com a voz empostada de ator, Reagan abriu seu discurso ao lado do presidente João Figueiredo assim: “Gostaria de partilhar o sonho americano com o povo da Bolívia …” O ex-presidente argentino Carlos Menem não fica atrás. No encontro de cúpula, realizado no Rio em 1999, atrasou-se tanto que o cerimonial teve de autorizar o começo da reunião sem a sua presença. Em sua última visita ao Brasil, no começo do ano, foi convidado para proferir uma aula magna no Itamaray e aprovou a honraria para fazer comício. Elogiou seu governo e disse que a vitória da oposição na Argentina traria o caos. Em 1997, o presidente francês Jacques Chirac, como Reagan, também se confundiu na geografia e chamou Fernando Henrique Cardoso de “presidente do México” .

Ao lado de Figueiredo, Reagan saúda os bolivianos

Não apenas estrangeiros cometem gafes. O Brasil presenteou o papa João Paulo II com uma santa barroca, para depois descobrir que era uma peça do patrimônio histórico. Proibida, portanto, de sair do País. Foi preciso negociar com o Vaticano a volta da imagem. No Exterior, as embaixadas elaboram um glossário de costumes locais para evitar problemas. Em alguns países da Ásia, usar amarelo é sinal de luto. E no Leste europeu, os beijos estalados na face entre homens são tradição.

Mas quando tem de que dar errado, não adianta treino. É a Lei de Murphy. Num banquete oficial, há dois anos, FHC derrubou, sem querer, uma taça de água na mesa. Usou um papel branco para enxugar a toalha… era o discurso do presidente ucraniano, Leonid Kravschuk. Mais tarde, seu assessor, Boris Tarassiuk, deu uma entrevista e não conseguiu mostrar aos colegas a localização da Ucrânia no mapa-múndi. A carta era tão antiga que mostrava a União Soviética, ainda com a Ucrânia incorporada. No mesmo dia, um mapa-múndi atualizado foi posto no lugar. Mas a gafe já era história.