Não faz muito tempo, homens maduros trocavam casamentos de bodas de prata ou mesmo de ouro por garotas jovens. Agora são as mulheres que assumem suas paixões por ninfetos. E eles já ganharam até apelido. São chamados carinhosamente de “danoninho”. Não se sabe como surgiu, mas a gíria já pegou. A ficção, que sempre explorou o assunto, tem ajudado mulheres comuns a assumir o namoro. Elas se espelham na postura de senhoras ousadas como, por exemplo, a atriz Betty Faria. Faz mais de uma década que, mesmo timidamente, ela vem mostrando em público seus romances juvenis. A paixão da cinquentona e estonteante Helena (Vera Fischer) pelo jovem de 20 e poucos anos Edu (Reynaldo Gianecchini), na nova novela da Globo, Laços de família, promete fazer explodir de vez, affairs adolescentes e anônimos.
As mulheres colecionam muitas conquistas nos últimos anos.

Tornaram-se auto-suficientes, independentes, corajosas e ganharam a liberdade de escolha em quase todos os setores, principalmente o amoroso. Segundo os psicólogos não há nada de edipiano ou digno de análises mais profundas na opção por homens mais jovens. Para elas, não existe melhor estimulante. O relacionamento de dois anos da atriz Betty Faria, 59 anos, com o ator Franklin Thompson, 26, é um exemplo. “Às vezes acho que o relacionamento não seria tão bom, se não houvesse essa diferença de idade, de problemas e de valores”, confidencia. “No Brasil, ser jovem é tudo. Tudo conspira contra uma mulher madura e se ela não pode mais gerar filhos parece que perde o encanto. Uma grande bobagem. Comigo e o Franklin é bem diferente. Às vezes ele parece ter 70 anos e eu 16”, conta a atriz.

Independência – Em geral, mulheres que escolhem parceiros mais novos são profissionais bem-sucedidas, que jamais se encaixariam no modelo de esposa tradicional, subserviente ao marido. Alcançaram o estágio em que não precisam mais se sentir protegidas pelo parceiro ou esperar dele um suporte financeiro. Com a economista paulista Gerlene Colares, 41 anos, foi assim. Ela separou-se do marido, dividiu a casa com o irmão mais novo e conheceu os seus amigos. Um deles, Eduardo Freire, 30 anos, contramestre de capoeira, apaixonou-se por ela.“Ele ligava várias vezes para nossa casa até eu perceber que ele não tinha nada para falar com meu irmão. O negócio era comigo”, relembra, aos risos. No começo, ela se incomodava com a diferença de idade. Mas o problema foi bem digerido e eles namoram firme há cinco anos. Entre os colegas do namorado, Gerlene é chamada de coroa do Edu e ela garante que se diverte com o rótulo. “Se eles soubessem o bem que fazemos um ao outro, ficariam morrendo de ciúmes”, rebate. É verdade. Depois que o relacionamento decolou, Gerlene entrou na ginástica, parou de fumar, mudou a alimentação. Com o apoio dela, Edu ingressou na faculdade de Educação Física e hoje é um requisitado personal trainer. “Me orgulho de ser o danoninho de Gerlene”, brinca o rapaz.

Mas nada é tão simples. Mulheres maduras começaram a abraçar sem culpa parceiros mais jovens há pouco menos de uma década. Mas assumi-los diante de uma sociedade faladeira, na maioria dos casos, ainda é raro e comprometedor. Principalmente quando as senhoras são casadas. Andrea*, 36 anos, esconde sem culpa seu danoninho no armário. Há mais de um ano, ela vem saindo com Ricardo*, 19, na maior discrição. Casada com um homem dez anos mais velho, ela investiu na relação como forma de compensar a falta de atenção do marido. “Quando era adolescente, achava legal um cara maduro para me proteger”, conta. “Mas agora meu marido está acomodado. Se eu sugiro um fim de semana na praia, diz que não quer pegar trânsito; se quero ir a um barzinho, ele reclama da fila. Já meu danoninho, não. Saímos todo fim de semana, pois ele está sempre disponível e topa qualquer aventura, me rejuvenesce, me empolga”, confessa. O sexo, claro, é a melhor parte do relacionamento “proibido” dos dois. “Ele me quer a toda hora. Faz-me sentir desejada e deixa meu ego lá em cima”, conta. O danoninho diz que nunca esteve tão apaixonado: “Tive medo de que ela me rejeitasse por ser mais novo, mas agora não me vejo namorando com uma menina de 17 anos. Andrea é segura e vivida, liberada em tudo. Para que complicar?”

Vaidade – A psicóloga Carmita Abdo afirma que não vale a pena complicar mesmo: “Seja qual for a forma escolhida de namorar ou flertar, faz bem para o ego da mulher ser desejada ou desejar um homem jovem.” A cantora Roberta Miranda, 44 anos, optou pela relação platônica por Marcos d’Avila, 21, papaquito do Planeta Xuxa. Ao participar de uma apresentação do programa da Globo, ela não resistiu e tascou um beijo na boca do rapaz. Desde então os dois trocam telefonemas, se encontram e falam sobre a possibilidade de um romance. “Por que só homem pode namorar alguém mais novo?”, pergunta a cantora. “Já fiz seis anos de análise, fui amada, traída e abandonada e me considero segura o suficiente para aceitar um não. Estou muito consciente de que amanhã ou depois ele pode se apaixonar por outra.”

Roberta pode ter razão. Numa época de relacionamentos fugazes e descartáveis, ninguém pode apostar que viverá um amor eterno – principalmente quando a diferença de idade é tanta. Chiquinha Gonzaga conseguiu essa façanha no começo do século. Com mais de 50 anos, a compositora conheceu um jovem com menos de 20, com quem viveu amorosamente até o fim da sua vida. A história da maestrina virou série de tevê, interpretada por Regina Duarte e o então estreante Caio Blat. Foi um dos grandes sucessos da Globo. No caso deles, apesar de todas as pressões sociais, prevaleceu a admiração e principalmente o amor.

Nos romances protagonizados por homens mais velhos, eles costumam se preocupar com a aparência e rejuvenescer depois que se apaixonam. Já com as maduras acontece o contrário. Por cuidarem da aparência, malharem, tratarem da pele e da saúde é que elas ousam olhar para os gatinhos. Assim pensa a psicóloga paulista Carmita Abdo. “Estando belas e resolvidas, elas podem atrair homens mais jovens, sim!”, afirma. “Isso faz os dois se sentirem seguros tanto sexualmente quanto na troca de afeto.” A campineira Heloisa Botelho da Silva, 31 anos, e seu marido Marcelo Botelho da Silva, 24, exemplificam bem essa troca. “Ele tem a cabeça fresca, me ajuda em casa, me dá muito pique”, diz Heloisa. Quando começaram a namorar, Marcelo tinha “apenas” 20 anos. Em menos de um ano, os dois estavam casados. Hoje têm um filho de dois anos e se revezam para cuidar do segundo, que nasceu há dois meses. Marcelo é marido e pai dedicado. Troca as fraldas à noite, lava louça, passa roupa, faz de tudo para ajudar a mulher. “Sempre a achei linda, assim, de vista. Até a gente se encontrar, sem querer, num vôo para Fortaleza. Não nos separamos mais. Ela deu rumo à minha vida. Agora trabalho com prazer na minha loja de autopeças. Faço qualquer coisa para vê-la feliz”, conta.