Liste cinco dos seus programas preferidos de televisão por assinatura. Não incluiu pelo menos um seriado do canal Sony Entertainment Television? Então você decididamente está no “contrafluxo”. As séries americanas exibidas no Brasil pelo canal Sony estão fazendo tanto sucesso que para participar das conversas mais informais é preciso dominar o assunto ou saber o básico: quem são Dawson, Felicity ou Jack, personagens de comédias de situação ou dramas que retratam a rotina americana de médicos de um pronto-socorro, irmãs com poderes sobrenaturais ou jovens que se preocupam com a própria fama (leia quadro). Vá se saber por que eles agradam tantos brasileiros. Os motivos podem ser vários. Interesse pela cultura do Tio Sam e seu humor auto-referente ou identificação com as situações e conflitos do elenco – absolutamente comuns a qualquer mortal, independentemente da cultura. Ainda não se tem no Brasil medição de audiência de tevê por assinatura, mas há no mínimo 150 mil espectadores acessando todo mês o site da Sony atrás de informações sobre os seriados preferidos.

De olho no sucesso, a emissora criou o projeto “fã de carteirinha”, que começa a funcionar a partir do segundo semestre deste ano. De acordo com Christina Johansson, gerente-geral da Columbia Tristar, distribuidora dos seriados da Sony no Brasil, o objetivo é aumentar a interatividade entre os sonymaníacos. “É uma forma de nos aproximarmos dos fãs e ampliar o contato entre eles. Teremos cybercafés e pontos de encontro na Web. Além de uma atualização constante da programação do canal”, explica Christina. A carteirinha simboliza esta união. O “fã de carteirinha” pagará uma taxa simbólica e terá acesso a informações e promoções especiais do canal e do site. Mas o grande barato mesmo, segundo Christina, é que o associado passa a fazer parte da família Sony e se sente cada vez mais próximo de seus ídolos. Exagero? Nem um pouco.

O professor de inglês Alexandre Rodrigues, 27 anos, é um sonymaníaco que já está com um pé nessa família. Fã de Friends e Felicity, ele grava a maioria dos episódios das séries e vive nas salas de bate-papo virtual sobre seriados de tevê. O mais engraçado é o esforço que Rodrigues está fazendo para impedir que Felicity saia do ar. Depois de cortar radicalmente os cabelos, a protagonista da série perdeu muita audiência, a ponto de os produtores pensarem em desistir do negócio. “Gravo fitas cassetes em inglês pedindo para a série não acabar e envio para o fã-clube ‘save-felicity’, nos Estados Unidos. Quanto mais fitas gravarmos, menor a chance de o seriado sair do ar”, torce Rodrigues. Usar fita cassete no lugar de e-mail tem explicação. “Felicity é uma garota que saiu da casa dos pais para ir morar sozinha e estudar em Nova York. Quando tem saudades, ela grava fitas para sua melhor amiga, que está a quilômetros de distância”, justifica Rodrigues.

Foto: Alan Rodrigues

Ana Karina começa o trabalho mais tarde para assistir a Friends e às terças-feiras chega a ver a série por três vezes

Fanatismo – Outra obsessão de Rodrigues é o sitcom (situation comedy) Friends, a série campeã de audiência no Brasil, México e Argentina. Friends também é o carro-chefe da rede NBC, que transmite o seriado nos Estados Unidos e já foi indicado mais de dez vezes para o prêmio Emmy (o Oscar da tevê americana). A história não tem nada de especial. Conta as travessuras e experiências de uma turma de seis amigos que mora em Manhattan, Nova York. Mas o humor sarcástico e bem bolado em cada cena é o que a torna preferência internacional. A organizadora de eventos Ana Carvalho Pinto, 42 anos, acredita que o seu fascínio pelos sitcoms vem justamente dessa forma de fazer rir. “Assim como os brasileiros fazem novelas melhor que ninguém, os americanos são os mestres do sitcom. Eles têm sacadas geniais e tiram sarro uns dos outros como a gente nunca faria”, conta a fã de Friends e ER (Plantão Médico, que chegou a ser exibido pela Rede Globo). Ana é a prova de que os seriados da Sony não fazem sucesso apenas entre a moçada. E ela não está sozinha, divide sua paixão com a amiga e coordenadora editorial Maiá Mendonça, 47 anos. “Às vezes telefonamos uma para a outra só para deixar recados na secretária eletrônica avisando como foi o episódio e se valeu a pena ou não assistir”, diz Maiá.

O ídolo das duas amigas é o médico Mark Greene da série ER, vivido pelo ator Anthony Edwards. “Estávamos passeando de carro, divagando sobre o último episódio de ER e sobre como o Doctor Greene é interessante. Quando olhamos para o lado, vimos uma pessoa na rua igual a ele. Quase paramos o carro, mas o bom senso nos impediu”, lembra Maiá. “Também gosto de Felicity e Friends, transmitidos nas noites de terça-feira. Nesse dia, não programo nada. Nem atendo o telefone”, completa Ana.

A estudante universitária Ana Karina, 20 anos, também é radical. Está tão envolvida pelas desventuras vividas pelos “Friends” que chega a regular seu horário de trabalho em função do programa. “Meu dia só começa depois das 13h30, quando o episódio termina. Às vezes, faço uma pausa às 19h para assistir às reprises dos episódios da tarde e assisto aos inéditos na terça-feira à noite”, conta Ana Karina, como boa sonymaníaca. “ É uma overdose maravilhosa”, vibra a estudante.