Os machos Henry e Nick prestaram um grande serviço à sua espécie. As duas focas foram objeto de estudo de quatro cientistas alemães que buscavam desvendar como esses animais conseguem localizar e abocanhar suas presas em águas escuras ou lamacentas. No reino animal há vários exemplos de bichos que desenvolvem outras habilidades sensoriais para compensar a falta de visão. É o caso dos morcegos, que calculam a distância até a presa ou o predador pelo tempo que o eco de seu gemido demora entre escapar de sua boca e voltar a seus ouvidos. É a chamada ecolocalização. O capítulo das focas permanecia um enigma até a semana passada, quando estudiosos do Instituto de Zoologia da Universidade de Bonn, na Alemanha, descobriram que o segredo das focas está no bigode. Semelhante a um radar, ele ajuda o bicho a detectar o rastro deixado na água pelo nado de um peixe.

As experiências ocorreram no zoológico da cidade alemã de Colônia. Henry foi mantido em uma piscina ao ar livre cheia de água turva do mar. A foca foi treinada para procurar um submarino em miniatura na piscina. Os zoólogos vestiram Henry com máscaras e fones de ouvido para atrapalhar sua visão e audição e retiraram sua cabeça fora d’água para que ele não pudesse ouvir o motor do submarino. Henry só voltava para a piscina quando o brinquedo parava de navegar. Na maioria das vezes (78,5%), ele encontrou o brinquedo. Bastou os cientistas prenderem o bigode de Henry para que ele perdesse o rumo. Seu focinho foi coberto por uma meia-calça de náilon e o bigode ficou imobilizado. Resultado: Henry errou todas as 30 tentativas de pescar o submarino. A conclusão é que os pêlos do bigode vibram com o movimento da água e os animais precisam deles para ter noção espacial. Os experimentos foram então repetidos com outra foca, dessa vez o macho Nick. Numa piscina de água doce e transparente, Nick acertou a maior parte dos mergulhos (82%) em busca do submarino. Com o focinho coberto, ele também errou todas as investidas, como Henry. Os cientistas não têm mais dúvida de que o bigode é fundamental para a sobrevivência das focas. Eles supõem ainda que o animal consegue detectar o movimento da água e a presença do predador ou da refeição a pelo menos 180 metros de distância.