Após passar maus pedaços ouvindo animais falar em Dr. Dolittle, rodado em 1998, Eddie Murphy volta a encarnar o médico simpático em Dr. Dolittle 2 (Dr. Dolittle 2, Estados Unidos, 2001), cartaz nacional na sexta-feira 13. A novidade é que agora a falação vem do próprio Dolittle/Murphy. Ele dedica a maior parte de seu tempo discursando a favor das cruzadas ecológicas contra desmatamentos e extinção de determinadas espécies e tentando abafar contendas domésticas diante da ira das filhas rebeldes Maya (Kyla Pratt) e Charisse (Raven-Symoné) e da mulher entediada Lisa (a belíssima Kristen Wilson), mesma turma do primeiro filme. Murphy novamente está bem à vontade no papel. Finalmente superou a indefinição entre o humor sofisticado do início da carreira exibido no programa de televisão Saturday night live e os filmes de ação que o tornaram milionário, especialmente as séries 48 horas (I e II) e Um tira da pesada (I, II e III).

Como herói infanto-juvenil, personagem que vem abraçando desde O professor aloprado – já com dois episódios, um de 1996 e outro de 2000 –, Murphy também conseguiu driblar a decadência de machão negro das telas. À frente de comédias inocentes sua histrionice aflora, principalmente quando tem animais como parceiros de drama. Neste Dolittle 2, por exemplo, são divertidos os diálogos travados com o urso Archie, um animal criado em cativeiro, mimado e metido a playboy, “interpretado” por Tank, um ursão de verdade, de 360 quilos e 2,10m de altura. O riso repete-se na cena da debandada dos animais, na qual dois ou três corvos cruzam a tela estabanados, grasnando “nunca mais, nunca mais!”. Se o poeta americano Edgar Allan Poe soubesse…