Como vencedor do 3º Prêmio Visa de MPB, edição compositores, de 2000, o violonista, compositor e regente Dante Ozzetti, 43 anos, ganhou a gravação de um CD, que agora chega às lojas como seu primeiro disco solo. Embora sete das 11 composições incluídas em Ultrapássaro sejam parcerias com Luiz Tatit, do extinto grupo Rumo, o trabalho de Dante reserva características distintas daquele conjunto. Distante das investigações experimentais e arqueológicas do Rumo, o paulistano Dante preferiu investir pesado no lado lírico e nada piegas de São Paulo, soando com identidade própria, ora contemporâneo, como na música-título – parceria com José Miguel Wisnik –, ora brejeiro, como na saborosa Vou voltar, escrita com Itamar Assumpção. É uma evolução artística testemunhada por aqueles que acompanharam a carreira solo de sua irmã, a ótima cantora Ná Ozzetti, cujos álbuns Dante produziu e para quem fez arranjos, recebendo vários prêmios pela atividade.

Desde então, o músico exibe uma especialidade: fazer com que seu violão converse com seus pares, aqui tocados por Kiko Moura e Swami Jr., e ampliar esta conversação para outros instrumentos, como os da percussão de Caíto Marcondes, as flautas da irmã Marta Ozzetti ou os sopros de Mané Silveira. Foi com este tecido que Dante envolveu vozes privilegiadas, entre elas as do grupo vocal feminino Vésper, da doce Virgínia Rosa e, é claro, de Ná. O contraponto entre o Vésper e o arranjo de cordas escrito para a jobiniana Terra à vista (Ozzetti/Tatit) é um dos grandes momentos do disco. Feito repetido no diálogo musical das duas citadas cantoras em Dentro fora. Há ainda uma dupla de canções inéditas assinadas apenas pelo autor, Vão e Assim, além de duas outras já gravadas por Ná, Estopim, cantada pelo próprio, e Nosso amor, em versão instrumental. O Prêmio Visa pode ter sido oferecido a Dante Ozzetti. Mas quem saiu lucrando foram os ouvintes.
L.C.