Em mais de um século, o jogo de bola adquiriu no Brasil uma dimensão quase religiosa. Apesar da história rica, em todo este tempo o esporte jamais foi tão maltratado, dentro e fora de campo, como nos últimos anos. O único país tetracampeão mundial é também o dos times falidos e das CPIs que expuseram a banda podre de muitos dirigentes corruptos e provincianos. Dentro do gramado, as trocas sucessivas de técnicos não têm impedido que a Seleção apresente um futebol igualmente vergonhoso, que pode tirar pela primeira vez o Brasil de uma Copa. Os que desejam identificar os caminhos que levaram a esta agonia e encontrar sugestões para a criação de um novo modelo de administração para esse esporte devem ler A metamorfose do futebol (Unicamp, 266 págs., R$ 20), de Marcelo Weishaupt Proni.

Pesquisador e professor do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Proni adaptou sua tese de doutorado Esporte espetáculo e futebol-empresa, defendida em 1998. O resultado é um trabalho consistente de pesquisa, aliado a uma rica comparação entre o futebol-empresa praticado na Inglaterra, Itália e Alemanha e as fracassadas tentativas de parceria e modernização do esporte no Brasil nos anos 80 e 90. Proni mostra que não é novo o costume de pregar a importação irrestrita do modelo europeu de administração de clubes. Mas os dados sobre faturamento e fontes de renda analisados por ele levam o leitor a concluir que o País deve buscar um modelo original. “O desafio está em garantir que o funcionamento dos clubes-empresa e das ligas seja transparente; em permitir que as torcidas se organizem de forma responsável e tenham uma participação ativa na produção da festa”, afirma o autor. Torcedor apaixonado do Botafogo de Ribeirão Preto (SP), atual vice-campeão paulista, ele foi um meio-de-campo limitadíssimo até a adolescência. Felizmente, Marcelo Proni mudou de campo a tempo de fazer um gol de placa.