Desde os tempos da colonização inglesa, a sina de muitos intelectuais indianos sempre foi tentar o sucesso na língua do colonizador. Hoje, quando a Índia se destaca como o grande fornecedor do mercado de criadores de software de todo o mundo, a regra se mantém: não basta ser bom, genial. É preciso sê-lo em inglês. A jovem escritora Jhumpa Lahiri não fugiu à regra. Curiosamente, em vez de situar seus conflitos em território britânico, como a maioria de seus compatriotas, ela escolheu os Estados Unidos e seus campus universitários como cenários dos contos de Intérprete de males (Companhia das Letras, 224 págs., R$ 25), seu primeiro livro, que mereceu o Prêmio Pulitzer do ano passado.

Escrito com rara sensibilidade e traduzindo com mão delicada os nostálgicos suspiros de um povo visto como exótico pela cultura ocidental, o livro de Jhumpa é uma leitura suave. Mas ao final deixa na boca o travo amargo do isolamento. Seus personagens se alimentam da saudade nas mais diferentes manifestações. São ingredientes básicos usados por Jhumpa, que tempera seu livro com o perfume da água de rosas, o sabor do curry e as lágrimas das noites vazias.

Não se trata, com certeza, de uma obra sofisticada, mas reflete com competência uma realidade que só quem vive dividido entre duas culturas pode identificar. Embora nem todos os que a identificam
a consigam traduzir. Aos 33 anos, Jhumpa ainda vacila nos
enredos, tropeça no sentimentalismo e não chega ao nível de um
V. S. Naipaul, para citar outro grande nome das letras indianas em língua inglesa. Mas sua literatura tem tudo para crescer. E, desde já, para encantar.