Vítima de previsíveis trocadilhos em razão de seu sobrenome soar em inglês exatamente como a palavra limão, o ator americano Jack Lemmon – que morreu na quarta-feira 27, aos 76 anos, devido a complicações decorrentes de um câncer – não tinha nada de azedo. Com seu rosto de homem comum, portanto maleável às mínimas expressões, bastava ele abrir a boca para arrancar gargalhadas. Foi assim, por exemplo, em Quanto mais quente melhor (1959), uma das maiores comédias de todos os tempos, dirigida por Billy Wilder, na qual interpretava, ao lado de Tony Curtis e Marilyn Monroe, um músico de Chicago que se traveste para escapar da máfia. Impagável também foi sua atuação em outra comédia antológica, também de Billy Wilder, Se meu apartamento falasse (1960), encarnando um funcionário de uma grande empresa que empresta a casa para os chefes viverem calorosas aventuras amorosas.

John Uhler Lemmon III – sim, ele tinha este nome pomposo, em razão da origem abastada, garantida por uma família tradicional de Massachusetts –, desde o início da carreira, em 1954, tentou se livrar do rótulo de ator cômico. Tanto é que depois de 15 comédias em apenas oito anos, assumiu o desafio de um intenso papel dramático como o alcoólatra de Vício maldito (1962), de Blake Edwards. Mas, com certeza, será mais pelos filmes leves que ele será lembrado. “O público olhava meu rosto e começava a rir. Ninguém me imaginava declamando Hamlet”, afirmou certa vez. Ao longo de 47 anos de carreira, mais de 60 filmes, dois Oscar, Lemmon realizou enfim o seu Hamlet, em 1996, sob a batuta de Kenneth Branagh, vivendo Marcellus.

Nos anos 60, Lemmon basicamente interpretou papéis de americano médio, mas sempre munidos de um humor típico. Nas duas décadas seguintes, tornou-se mais sério. Foi o período de dramas políticos e sociais, como Missing, o desaparecido (1981), de Costa-Gavras, no qual encarnava um pai que vai ao Chile desvendar o sumiço do filho ativista. Sempre perfeito, Lemmon envelhecia com dignidade artística. Mas não escondia a desilusão com o cinema americano de hoje. “A preponderância é de filmes preocupados apenas com efeitos especiais e castigos violentos. Isto é algo que abomino.”


Siga a IstoÉ no Google News e receba alertas sobre as principais notícias