Música oriental, pés descalços e reverências à katana, a espada samurai. As aulas de iaijutsu – a técnica de desembainhar e embainhar a katana – não começam sem estes três elementos. Ministrada no Brasil pelo instituto Niten, fundado pelo médico Jorge Kishikawa em 1993, a prática está disponível na academia paulistana Competition há três meses. Apesar de espalhado por 31 unidades pelo País – em Manaus, Porto Alegre, Goiânia e João Pessoa, por exemplo –, esta é a primeira incursão do instituto numa rede de fitness. “Hoje as pessoas não buscam apenas o culto ao corpo, mas também o equilíbrio. Querem atividades diferenciadas, com o lado da filosofia de vida, concentração, atenção e reflexo”, diz Rita de Cássia, uma das coordenadoras de ginástica da Competition. Dentro desse conceito, a espada samurai se encaixa perfeitamente. Kishikawa garante que manuseá-la é mais uma forma de lapidar o corpo, a mente e o espírito. E a prova do sucesso está no aumento do número de interessados. Segundo ele, seu instituto cresceu 500% nos últimos três anos e está com 800 alunos, muitos atraídos por filmes como O tigre e o dragão, O último samurai e Kill Bill.

Baseada na doutrina samurai (leia quadro), a aula começa com exercícios de alongamento e relaxamento e depois parte para fortes repetições de exercícios para as pernas e quadris. Os braços são exercitados com os movimentos firmes de desembainhar e de cortar, com as espadas em punho (de aço ou de madeira). Por todo o treino, postura e respiração são corrigidas pelo instrutor Marcelo Neje, há dez anos discípulo de Kishikawa. “Em três semanas de aula, já senti muita diferença na minha postura e equilíbrio”, afirma Igor Vaz, 24 anos. Os últimos 30 minutos das duas horas de aula são usados para a degustação de chá e a leitura de pensamentos do livro Shin Hagakure (Novo Hagakure – tratado dos samurais da região de Saga, no Japão), Ed. Conrad. “Os ensinamentos da espada são levados para o dia-a-dia das pessoas. Questões como sacar ou não a espada, antevendo o movimento do adversário, podem ser transpostas para o cotidiano. Trata-se de se encontrar um equilíbrio mental para enfrentar as situações a que somos expostos diariamente. Uma sabedoria oriental”, afirma Kishikawa.

A honra ou a vida: guerreiros que dominaram o Japão entre os séculos XI e XIX, os samurais seguiam um rígido código de ética chamado bushido (o caminho do guerreiro) e prezavam a honra e a devoção ao seu senhor sobre todas as coisas, inclusive a própria vida. Em caso de derrota ou humilhação, praticavam o harakiri – suicídio executado com a própria espada – para ter uma morte digna.