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MAGNUS CARLSEN
PERFIL
Norueguês, 19 anos, grande mestre pela Federação Internacional de Xadrez (Fide)
FUTURO
É treinado pelo célebre russo Garry Kasparov
 

Magnus Carlsen acabou de completar 19 anos, não lembra se tem um tabuleiro de xadrez em casa, mas é o número 1 no ranking internacional de grandes mestres do esporte, o título mais alto entre os enxadristas profissionais. Nascido na Noruega, é uma exceção entre os grandes que, tradicionalmente, vêm de países que investem dinheiro público no fomento do jogo e no treino de suas estrelas. Carlsen aprendeu o grosso do que sabe pelo computador e, até pouco tempo, raramente jogava no tabuleiro. Foi diante do monitor que ele sentiu despertar o interesse pelas combinações possíveis das 16 peças no tabuleiro de 64 nichos. Hoje, ele é pupilo do célebre russo Garry Kasparov, tido como o maior enxadrista profissional de todos os tempos. “Quando Carlsen se aposentar como jogador, ele terá mudado o xadrez de maneira considerável”, ponderou Kasparov, que nunca foi modesto, em entrevista à revista “Time”. Apesar de impressionante, a trajetória do norueguês ainda é curta e seu sucesso a longo prazo uma incógnita. Não foram poucos os que surgiram como grandes promessas não cumpridas.

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VICTOR SHUMYATSKY
PERFIL
Brasileiro, 13 anos, mestre pela Federação Internacional de Xadrez (Fide)
FUTURO
Divide o tempo entre o estudo e a paixão pelo jogo, que treina em casa com o pai e com professores

Mas uma coisa é certa: ele é a síntese do novo enxadrista de alto nível. Se até os anos 1980 os maiores eram produto de grandes sistemas de seleção e treinamento, muitas vezes públicos, os mais novos surgem de todos os lugares. Entre os fatores que explicam essa mudança, um é central: a internet. Com ela, ficou mais simples e barato treinar e acompanhar as partidas dos grandes mestres em todo o planeta. “Antes, o entusiasta com potencial tinha que esperar uma, duas semanas para conseguir jogar com alguém”, explica Pablyto Robert, presidente da Confederação Brasileira de Xadrez (CBX). “Hoje, ele entra na internet e pode jogar contra computadores abastecidos por sequências de movimentos ou com outros enxadristas, ao vivo, em todo o planeta.” Bem representado pela nova geração, o Brasil participa com feras como André Diamant, grande mestre de 19 anos e primeiro lugar no ranking da Federação Internacional de Xadrez (Fide) no Brasil, de seu primeiro Mundial de Equipes, que acontece até quinta-feira 14, na Turquia. Para Krikor Mekhitarian, mestre internacional brasileiro de 22 anos e membro ativo dessa nova fase, a internet é uma mão na roda. “Hoje temos softwares com jogos do século XVII disponíveis para consulta”, lembra ele. Antes do computador, o enxadrista dependia de uma imensa biblioteca com livros caros – muitos importados – recheados de textos e diagramas dos tabuleiros para estudar e ascender na hierarquia do xadrez, que começa no candidato a mestre, passa por mestre internacional, mestre Fide e culmina com grande mestre. Os impressos continuam sendo uma importante fonte de referência, mas com a internet o acesso se popularizou. E os efeitos dessa propagação são registrados ano a ano pela CBX, que também é ardorosa defensora da apresentação do jogo na sua forma clássica, com tabuleiro e peças, aos alunos dos ensinos fundamental e médio.

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KRIKOR MEKHITARIAN
PERFIL
Brasileiro, 22 anos, mestre internacional pela Federação Internacional de Xadrez (Fide)
FUTURO
Nos próximos dois anos vai se dedicar integralmente ao xadrez, treinando seis horas diárias

“O número de eventos oficiais reconhecidos e pontuados pela Fide deve dobrar entre 2009 e 2010”, conta Robert. ssa é uma tendência que vem se repetindo desde 2006. Menina em um mundo de meninos, Vanessa Feliciano, 19 anos, campeã brasileira na categoria adulto de 2009, é outra que deu asas à sua veia enxadrista com a ajuda da tecnologia. Catarinense da pequena cidade de Rio do Sul, ela tomou gosto pelo esporte ainda na infância por influência do pai, Nico Feliciano, que foi campeão estadual em 1985. Hoje, como profissional, ela treina seis horas por dia com orientações virtuais de Álvaro Aranha e Rafael Leitão, seus técnicos que vivem a 700 km de distância, em São Paulo. “Sou apaixonada pela beleza e a elegância do xadrez”, revela Vanessa. Trata-se de uma elegância complexa. Depois de um movimento de cada jogador, há 400 possibilidades de posição. O número cresce a mais de 72 mil com dois movimentos de cada, nove milhões com três e 288 bilhões com quatro. “Não tem como alguém conhecer todos os movimentos”, explica Krikor. “E isso é bom, faz do jogo um hábito que se renova a cada partida”, diz. Não é de se surpreender que a habilidade extrema em xadrez, junto com a matemática e a música, é um dos sinais mais óbvios da genialidade precoce. Que o diga o brasiliense Victor Shumyatsky, 13 anos, mestre Fide e campeão sul-americano aos 12 anos. Filho de pais  cranianos, ele mostrou aptidão pelo esporte desde cedo e vem sendo visto como a grande promessa do xadrez nacional. “Mas todos podem e devem jogar”, argumenta Robert, da CBX. “Os benefícios, mesmo entre os amadores, vão desde amadurecimento do raciocínio lógico ao desenvolvimento da capacidade de concentração e cognição”, revela. A campanha pelo aumento da presença do xadrez nas salas de aula é uma das bandeiras da CBX. Todos ganhariam com isso.