Roa Lynn é uma escritora americana que se apaixonou pelo Brasil e resolveu transmutar o sentimento em livro. Seu mais recente trabalho, O assassino e a musa (Francisco Alves, 464 págs., R$ 40), começa desenhando uma história de amor e alcança o clímax com um violento cenário político e policial. Embora a narrativa, prioritariamente, se ocupe das construções e desmanches amorosos, um dos pontos altos está no olhar para o Brasil criado pela ficção da autora, em plenos anos 60. Limita-se entre o poético e o exótico a forma como Roa fala do Rio de Janeiro e do jeito de ser do brasileiro. “Sem esforço, a própria cidade estimulava a tristeza geral pelo fato de estar convidativamente enrodilhada em volta da baía azul-esverdeada como uma mulher lânguida encostada às nádegas do amante”, diz ela, ou melhor, Kate, a personagem central do livro. Quem já teve alguns minutos para sorver a orla carioca entende a descrição.

Em outra parte, Roa ainda demonstra perplexidade com os mensageiros. “Rapazes adolescentes para lá e para cá, com recados que abrangem toda a gama de ocupações humanas, desde um convite para um almoço de negócios até uma mensagem de desculpas por um caso amoroso cancelado.” Este tipo de choque cultural sempre acontece. O escritor John Grisham, por exemplo, gastou um capítulo inteiro de um de seus romances, ambientado no Brasil, para tentar explicar o que é um despachante. Fica evidente, no entanto, que Roa Lynn passou um bom tempo no País. Ela não erra endereços, fatos, datas ou personagens políticos. Desembarcou aqui pela primeira vez há mais de 30 anos e, desde então, já voltou quase uma dezena de vezes. Em breve, ela engatará uma boa desculpa para nova temporada. Seu próximo livro terá como cenário a Baixada Fluminense.