Como se sabe, uma das formas mais eficientes de quebrar a unidade política de um povo é impedi-lo de usar sua própria língua. Foi assim durante os 24 anos de domínio indonésio sobre o Timor Leste. E até hoje, desde que há dois anos as tropas indonésias se retiraram de lá, deixando um rastro de sangue e miséria, o pequeno país de língua portuguesa persegue sua reconstrução física, cultural e política. Atualmente, o Timor Leste praticamente sobrevive da caridade internacional. É esta sofrida luta que a fotógrafa mineira Regina Santos documentou nos dois meses em que percorreu 37 dos pouco mais de 50 distritos do Timor Leste, cuja extensão territorial corresponde à do Estado brasileiro de Sergipe. O resultado final está reunido no livro Timor Lorosa’e (UnB/Imprensa Oficial de São Paulo, 120 págs., R$ 50). São 87 flagrantes das alegrias, frustrações, desespero e sobretudo da crença no futuro que os timorenses ousam cultivar, apesar da economia quase inexistente. Neste sentido, a foto da capa foi escolhida a dedo. O menino com o caderno no joelho tem aulas de português, idioma oficial até 1975, quando o governo da Indonésia invadiu o país e impôs o uso do indonésio. Junto com o português, o país que tenta renascer ensina às suas crianças o tetum, dialeto local, igualmente banido pelo domínio indonésio.

Para valorizar a dramaticidade, as fotos selecionadas por Regina – fotógrafa nascida em Leopoldina e radicada em Brasília desde os anos 70 – são em preto-e-branco. “Também fiz um extenso material colorido, mas em preto-e-branco o trabalho ganha mais intensidade”, garante ela, que clicou mais de seis mil fotogramas. A idéia surgiu de forma quase acidental, durante uma visita do líder da resistência do Timor, Xanana Gusmão, ao campus da Universidade de Brasília (UnB). Logo encampou a missão e pôs o pé na estrada. Depois da jornada, organizou o material em seis grandes grupos: velhos e crianças; a guerrilha resistente ao domínio indonésio; as forças internacionais de paz; a influência da religião – 90% dos habitantes são católicos –; destruição, morte e reconstrução; e crianças estudando e brincando. “Ao final, a mensagem é positiva, uma celebração da liberdade”, diz a fotógrafa. Todas as imagens, sem título, são amparadas por textos escritos em português, tetum e inglês.