Criado na Liverpool dos Beatles ouvindo o som da orquestra de bailes comandada por seu pai, Declan McManus desenvolveu um gosto musical eclético. Não à toa, quando surgiu durante a cena punk dos anos 70, já com o nome de Elvis Costello, suas composições transcendiam os três acordes básicos em voga, chamando a atenção de vários músicos. Costello sobreviveu aos modismos e passou a servir de intérprete entre as gerações, oxigenando carreiras como a de Paul McCartney ou do eterno easy-listening Burt Bacharach e fazendo ponte entre o público pop e artistas eruditos. É o caso da mezzo-soprano alemã Anne Sofie Von Otter, que o chamou para dirigir, produzir e cantar no álbum For the stars, uma incursão pop da premiada intérprete de Mahler, Mozart ou Brahms. Adornada por delicados arranjos e tendo como ênfase as cordas e os instrumentos da linha dos órgãos Hammond, marimbas, sintetizadores, etc., a voz de Anne Sofie permite que se ouçam canções familiares do porte de For no one, de Lennon e McCartney, como se fossem inéditas.

No total, são 18 composições de artistas como o próprio Costello, Bacharach, Brian Wilson ou Rubén Blades, nas quais o vocal e o instrumental brigam pela excelência. Broken bicycles, de Tom Waits, que surge emendada a Junk, de McCartney, por exemplo, é para ouvir de joelhos. Anne Sofie dedica o álbum a cantoras populares a quem faz questão de chamar pelo primeiro nome. Assim surgem Carole (King), Barbra (Streisand) ou Joni (Mitchell), sugerindo com humildade que se vê como uma delas. Os nobres têm dessas coisas.