Escrito em 1871, “Jaguadarte” (ou “Jabberwocky”, no original em inglês) era quase um texto à parte, inserido em uma passagem do segundo livro da personagem mais famosa de Lewis Carroll, criada seis anos antes em “Alice no País das Maravilhas”. Na história original, Alice se depara com o poema, escrito em uma língua aparentemente ininteligível. Ao se lembrar de que está em um mundo onde tudo é invertido, decide ler seu conteúdo refletido em um espelho. Tão conhecido quanto a obra que o contém, o trecho foi publicado em mais de 15 línguas no mundo todo, e ganha agora uma nova tradução em português de Augusto de Campos, que será publicada em novembro pela Editora Nhambiquara.

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Mia Wasikowska (acima) no papel de Alice, a personagem
mais famosa de Lewis Carroll (abaixo)

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Campos traduziu antes uma série de poemas de Carroll, que chegaram a ser reunidos no livro “O Anticrítico”, de 1986. Em entrevista à ISTOÉ, ele afirma que encara o trabalho de Carroll como precursor da poesia concreta.“As obras de Carroll influenciaram sob muitos aspectos a literatura moderna.

As ‘palavras-valise’ de ‘Jaguadarte’, que fundem duas palavras em uma só, anteciparam a linguagem do “Finicius Revém” (“Finnegans Wake”), a obra mais radical e experimental de James Joyce”, diz Campos. Grande admirador da obra de Carroll, ele cita o teórico Marshall McLuhan e o dramaturgo francês Antonin Artoud entre dois herdeiros estéticos do autor.

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O escritor Augusto de Campos, responsável pela nova tradução
de "Jaguadarte", poema do autor inglês publicado em 1871

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Além de escritor e matemático, Carroll ficou conhecido por suas fotografias de garotas pré-adolescentes, o que ainda hoje sucita comentários sobre pedofilia. Campos acredita que isso é fruto de especulação. “Pode ser uma fixação subliminar, interpretável hoje à luz da psicanálise. Mas é preciso cuidado com a invencionice.”

Carroll se mantém firme como um dos autores de livros infantis que mais despertam o interesse de adultos, seja pela maneira com que o autor subverte o uso da linguagem, seja pela não linearidade e o aspecto nonsense das histórias ou, talvez para muitos, pelo erotismo latente na personagem principal de sua obra.

Fotos: JOSÉ PATRÍCIO/ESTADÃO CONTEÚDO/AE; Divulgação