Embora tenha revelado um grande número de importantes diretores ao longo da sua história, o cinema espanhol nunca chegou a constituir um movimento com ideias e propostas específicas, como a nouvelle vague francesa ou o neorrealismo italiano. Seguindo uma constante segundo a qual cinematografias de diferentes países são impulsionadas por momentos de crise econômica, a recente produção espanhola deve reverter esse quadro. Principal destaque da Mostra de Cinema de São Paulo deste ano, o Foco Espanha reúne filmes clássicos e contemporâneos. Autor do cartaz oficial do evento, o cineasta Pedro Almodóvar é o grande homenageado desta edição, com uma retrospectiva de 15 longas-metragens.

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DESESPERADOS
Cena de "Hermosa Juventud", um dos mais importantes
do cinema espanhol contemporâneo

Mas é na seleção de 27 filmes inéditos que podem ser vistas as consequências da atual situação socioeconômica da nação ibérica, que alimenta com riqueza muitos dos longas-metragens que em breve devem entrar em circuito comercial. “Quisemos montar um panorama do país. Usamos filmes com uma linguagem mais alternativa e experimental, e muitos refletem a recente crise. Há várias obras de estreantes e diretores novatos”, explica Renata de Almeida, diretora do festival. Ela afirma que a iniciativa surgiu como uma forma de promover parcerias internacionais, com produtores espanhóis visitando o País para discutir novos projetos.

Um dos principais diretores da nova geração é Alfonso Zarauza, cujo segundo filme, “Os Fenômenos”, vem para a Mostra. A trama acompanha um casal que vive num trailer na costa espanhola. Desempregada e abandonada pelo marido, Neneta vai para a Galícia, onde se emprega em uma construção, se integrando a um grupo formado pelos trabalhadores mais rápidos da região, que ganha como apelido o título do filme. Com um pouco mais de experiência, Jaime Rosales está presente neste ano com “Hermosa Juventud”, seu quinto filme. Nele, um casal desempregado cansa de viver sem dinheiro e se candidata a participar de um filme pornô.

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O diretor Luis Miñarro ficou conhecido em 2009 por “Blow Horn”, documentário que acompanha a trajetória de um grupo de amigos pelo interior da Espanha. Agora, ele lança aqui seu segundo filme, “Estrela Cadente”. Miñarro é parte do coletivo “Cineastas Contra La Orden”, de grande importância para o novo cinema espanhol.

Ao lado de diretores como Isaki Lacuesta e Javier Rebollo, ele investe em um estilo de baixo orçamento, com histórias que refletem o momento atual.

Considerando o número de títulos, essas dificuldades econômicas parecem capazes de gerar um grande fluxo criativo. Após a descoberta nas últimas décadas das cinematografias de países como Irã, Argentina e Coreia do Sul, a Espanha é a mais forte candidata a se tornar a queridinha da vez entre cinéfilos do mundo todo.

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Foto: Juan Carlos Hidalgo